Ontem, na companhia dos amigos Marco Messias e Carlos Pinto, fomos pedalar pelos trilhos ancestrais da "Sierra de Gata".
Combinamos encontrar-nos pelas 08h30 em San Martin de Trevejo, onde irámos dar inicio a esta "ruta" e cumprimos com pontualidade inglesa, como referiu o Marco, quando ali chegou.
Depois dos cumprimentos da praxe e estacionamento adequado de viaturas, começamos a preparar as nossas "meninas" e restante material, pois hoje, era dia de trabalho árduo para as nossas "gingas de roda grossa".
Já prontinhos para o arranque, perscrutámos o céu e algumas nuvens negras e neblina nas zonas mais altas, criaram-nos alguma apreensão mas a "pica", essa, estava em alta . . . bora lá pedalar!
Entramos na bonita povoação de San Martin de Trevejo, situada nas faldas do Pico Jalama , com a sua arquitetura interior cuidadíssima, com a água correndo pelas suas ruelas, espetaculares paisagens criadas pelas suas matas de castanheiros e uma linguagem (la fala) apenas falada no últimos dos vales da "Sierra de Gata"
Apenas fizemos uma curta visita à sua pequena e bela "Plaza Mayor", onde destaco "la fonti Chafaril, onde sobressai o escudo imperial dos Habsburgos.
Ali demos praticamente o "tiro" de partida para esta encantadora aventura, descendo a rua em direção ao Convento de S. Miguel" ladeando depois durante algum tempo o Rio de la Vega que percorre o vale por onde iniciámos a impressionante subida ao Teso de la Nave.
Um par de kms depois fletimos à direita e aqui, foi o nosso portal de entrada no magnífico e impressionante "Castañar de Ojesto" considerado o mais extenso de toda a Extremadura e um dos mais densos da Europa. Estávamos já nos 750 metros de altitude.
A malta ia-se contorcendo, conquistando metro a metro aquele mágico trilho milenar em calçada romana, bem vestido com a folhagem das folhas mortas dos milhares de castanheiros que ladeavam o trilho, criando uma imagem mágica e única.
Durante a nossa ascensão, lá nos cruzávamos de vez em quando com grupos de caminheiros, que tal como nós desfrutavam aquela beleza impar.
Já a cerca de 900 metros de altitude, a paragem foi obrigatória e não forçada pelos escorreganços e empancamentos das rodas das nossas bikes. Chegáramos a um local deveras idílico, com os seus castanheiros centenários e conhecido como "Los Abuelos".
Ali disparámos as nossas digitais em todas as direções e tiramos a foto de grupo, para mais tarde recordar.
Continuamos a nossa luta contra as pedras da calçada, com zonas bastantes irregulares, mas a nossa determinação era mais forte e fomos vencendo, e por vezes vencidos até chegarmos à bonita cascata do Rio de la Veja.
Uma nova paragem para apreciar aquele belo recanto e seguimos à conquista do "puerto", que concluímos com a chegada ao Teso de la Nave.
Estava concluída uma das zonas mais emblemáticas do nosso passeio, a subida ao "Puerto de Santa Clara" pelo "Castañar de Ojesto"
Lá no alto, cruzámos a estrada e entramos num bonito "sendero" entre carvalhais de solo atapetado com a sua folhagem morta, pela finca de San Fecundo, que nos levou até ao entroncamento para Navasfrias.
Descemos umas centenas de metros por asfalto e virámos à direita para os trilhos que nos iriam levar até às encostas do Guijarro, ladeando o Pico Jalama.
Uma zona nova, mesmo para mim, que a fiz pela primeira vez.
Quando chegamos à cumeada deparamos com uma montaria aos veados e javalis, que nos alterou radicalmente os planos.
Mas nada que nos impedisse o divertimento e o pleno gozo dos trilhos serragatinos.
Na mesma situação encontravam-se dois espanhóis, também eles apanhados de surpresa com aquela inesperada caçada.
Demo-nos ao conhecimento e ficamos a saber irem para Hoyos e chamarem-se Javi e António.
Conversamos um pouco em linguagem ibérica (português espanholado) e constatámos serem dois excelentes companheiros ocasionais, prestáveis, com espírito de entreajuda e aventureiros como nós.
Depois de uma breve troca de palavras ficamos a saber que iriam descer a Hoyos pelos trilhos das minas, que bem conheço e que por acaso era a alternativa que já tinha magicado, acabando por os acompanhar até às proximidades do "castillo", na bonita e medieval aldeia de Trevejo.
Aqui nos despedimos do Javi e António Sanchez, dois excelentes companheiros ocasionais com quem pretendemos manter contato.
Fantástico, adrenalínico, brutal, bastante técnico e com uma panorâmica deveras única e idílica sobre Vale de Acebo, visto das escarpas do Pico Jalama, por onde serpenteia e toda a restante cordilheira já ordenada com "Las Hurdes". Assim é o trilhos das minas!
Esta povoação não estava nos meus planos iniciais, pois pretendia ir até às serranias que circundam o Acebo, mas a alternativa também prometia.
Como o Marco e o Carlos pedalavam na zona pela primeira vez, era ótimo levá-los a conhecer Trevejo.
Além de uma pequena aldeia embalada pelas ruinas de um castelo, é mais, a essência da Sierra de Gata.
O seu castelo, nas palavras de Jesus Sanchez Adalid, é como um espetro estático que se recorta lá nas alturas e os restantes locais estão espalhados de forma irregular pelas encostas, onde flores e túmulos antropomórficos estão escavados na rochas em torno de uma igreja medieval.
Diferente, original, de grande personalidade e força fantasmagórica.
Entrámos na sua pitoresca "Taberna" e saciámos a sede com umas "cañas" e um gracioso "pincho", que acompanhámos com umas batatinhas fritas.
Depois do registo fotográfico, quase obrigatório, fomos até Villamiel uma outra bonita povoação em pleno coração da Serra de Gata repleta de agradáveis e tranquilas "callejuelas", onde parámos no Restaurante "La Azuela"para comermos um belo "bocadillo de lomo caliente " acompanhado de umas amareladas "cañas", escarrapachados na sua bela "terraza"
Mas, para lá chegar, tivemos que vencer a terrível calçada romana que une as duas aldeias.
Abandonámos seguidamente a aldeia em busca do GR.10, que nos levaria até San Martin de Trevejo.
Depois de perdermos momentaneamente a sinalética do GR, perguntamos a alguém que nos indicasse o caminho para sairmos da povoação e ai vamos nós em direção à Barrera de Moncarbo.
Antes de descer a San Martin, e como ainda tínhamos algum tempo, resolvemos subir a encosta da Barrera de Moncarbo, até quase ao ponto onde termina o Trilhos das Minas.
Descemos depois pelo outro lado por um fantástico trilho, sempre em descida alucinante e técnica, até á estrada de aproximação à aldeia, que nos colocou a todos um sorriso de orelha a orelha.
Mas o melhor ainda estava para vir. Havia um caminho quase paralelo à estrada, a ladear o vale e que chamou a atenção do Carlos. Fomos então em busca da entrada para esse trilho.
Um pouco mais acima, encontrei um casal de caminheiros, a quem perguntei se conheciam a entrada do trilho.
Sorte a nossa. Vinham mesmo de lá e indicaram-nos a entrada, um pouco mais acima junto a um velho casario. Mas advertiram-nos logo . . . É um caminho muito mau e de calçada. Que boa notícia. Bora lá então, malta!
Demos facilmente com o caminho e foi a transpirar adrenalina que descemos pela fantástica calçada romana, por vezes bastante irregular até San Martin. O final não poderia ser melhor, nem mais adrenalínico. Já me ficou na retina para uma próxima ascensão quando voltar àquelas paragens. Já estou a engendrar um "boneco"!
Voltámos à bonita "Plaza Mayor" de San Martin e abancámos numa pequena esplanada de bar entre as arcadas e ali bebemos a "abaladiça", projetando novas aventuras com as nossas "gordinhas"
Um dia em pleno pelos melhores trilhos serragatinos e na companhia de amigos que conhecia de uma outra travessia, onde este, ou outro passeio pela Serra de Gata tinha ficado agendado, a guardar a oportunidade que ontem surgiu.
Bons companheiros, de trato fácil e espirito aventureiro elevaram esta aventura e proporcionaram-me um enriquecido dia de pedaladas pelo carismático Parque Natural da Serra de Gata, um dos locais onde mais adoro pedalar.
Depois das despedidas da praxe, seguimos viagem, cada um para seu lado, satisfeitos com mais um dia repleto de aventura e diversão.
Fiquem bem.
Vêmo-nos nos trilhos, ou fora deles.
AC
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