Ontem foi dia de ir pedalar até ao norte alentejano, planeando um percurso transibérico com passagem por zonas com história e inserida nalgumas das várias rotas megalíticas da região.
Lancei o convite a vários amigos para me acompanharem em mais uma das minhas pequenas aventuras lúdicas, convite que foi aceite pelo meu irmão Luís e o Pedro Ferrão, que vieram da Sertã.
Cá do burgo, acompanharam-me o Álvaro Lourenço, Dário Falcão, Luís Lourenço, Nuno Eusébio e João Afonso.
Estava lançada a base para mais um belo dia de pedaladas e a concentração do pessoal, foi agendada para as 08h30, no parque auto à entrada da medieval vila de Marvão.
Mas há de fato dias em que tudo se conjuga para que corra mal. Só que, com esta rapaziada, não é muito viável que isso aconteça, pois os problemas são para se resolver e não lançar impropérios, utilizar a nossa melhor linguagem vernácula, dar murros no capô do carro, amuar ou fazer birras.
Há que pensar em resolvê-los e criar condições para que isso aconteça.
E de fato, foi o que aconteceu, quando o Luís Lourenço recebeu um sms do vizinho a informá-lo de que tinha encontrado a roda da frente da sua bike, encostada à parede do prédio. E agora, que fazer!
Depois do pequeno choque inicial, ao verificar que a roda era mesmo a sua e que não a trazia no carro, foi arregaçar mangas e tentar arranjar uma roda emprestada. Feitos alguns telefonema,s lá o conseguiu através de um amigo, que contatou outro amigo resolvendo o problema indo a Portalegre buscar a roda emprestada, levando consigo o Nuno Eusébio.
A restante rapaziada deu inicio ao percurso, ficando alerta para quando o telefone tocasse, para se acertar a forma de nos juntarmos novamente.
Depois de uma pequena visita à vila, descemos à Portagem, por uma espetacular calçada romana, de considerável inclinação e curvas em gancho, que deliciou a malta, apesar do seu piso algo escorregadio.
Andávamos entretidos pela Portagem, a pedalar por um pequeno PR com vários passadiços sobre o rio, quando toca o telefone. Era o Luís e o Nuno que já tinham a roda e vinham a caminho.
Esperámos por eles e, já quando estávamos para arrancar de novo, eis que surge um novo problema, agora na roda traseira da bike do Pedro Ferrão.
Calmamente se resolveu a questão, metendo uma câmara de ar, pois o pneu teimava em não vedar na jante (tubelizações!!!) e toca a rolar!
Ladeámos Olhos d'Água por asfalto e mais à frente, com a imponente Serra de S. Mamede à vista, optámos pela Serra da Selada, por onde pedalámos, passando pelo Salto da Pêga, Barroca do Lobo e Barrocão, até chegarmos a S. Julião.
Aqui parámos numa tasca para comermos e bebermos algo, mas nada feito, pois também nada ali havia.
Alguns companheiros tomaram de assalto uma laranjeira, logo ali vizinha, e saciaram-se com umas laranjas.
Tínhamos agora um bom caroço para enfrentar, a subida da Serra Fria, algo longa e em zigue zague, que a malta enfrentou com valentia.
Estávamos já nas proximidades de Lamos de los Passos, um bonito local com paisagens fantásticas e praticamente já com um pé em Portugal e outro em Espanha.
E foi para esse local que descemos, por uma adrenalínica descida cheia de armadilhas e pedra roliça, com aquela pica que nos caracteriza. Sempre numa boa e com o espírito de aventura presente!
Ultrapassado o pequeno ribeiro que separa os dois países, estávamos agora já em "tierra de nuestros hermanos" e seguimos até El Pino, uma povoação que já avistávamos há algum tempo, para um pequeno repasto.
Mas não havia nenhum bar aberto e seguimos para Puerto Roque e aqui sim! Um bonito e amplo local com um belo restaurante.
Já estávamos como queríamos e após uma rápida pesquisa, decidimo-nos por uma belos "bocadillos de lomo caliente con tomate e queso" para uns, e " de omelete" para outros.
Antes, uns "pinchos" de dobrada para ajudar as duas primeiras jarras de "caña com limon" estabilizou de imediato a rapaziada, enquanto aguardava os "bocadillos"!
Bem servidos e deliciosos e com "unas jarras de caña com limon" expendidas, recuperaram-nos e puseram-nos de novo em forma, para enfrentar a segunda parte do percurso.
Abandonámos Puerto Roque por asfalto, para um pouco mais à frente entramos em terra.
Seguiu-se uma fantástica trialeira, algo técnica, mas que a malta enfrentou com alguma facilidade e com aquela cara de gozo, que fazemos, quando estamos a gostar.
Passámos por Huertas de Cansa, uma bonita povoação, e seguimos para Valência de Alcântara, passando por Las Casiñas Bajas, Molino de la Negra, Cerro Peje e S. Benito, quase sempre com o Rio Sever à vista e por estradões, sem grande dificuldade.
Quando chegámos à linha férrea para Cáceres era suposto seguir um "sendero" ladeando a linha até á entrada para o Monte das Amoreiras, mas este, simplesmente tinha desaparecido, com a limpeza das laterais da linha.
Mas a malta não é de atrapalhanços e como a linha está, pelo menos por agora, desativada, fato que verificámos por os carris não apresentarem vestígios de passagem de nenhum comboio, apesar de estar limpa e em bom estado de conservação, encurtámos a distância ao Monte das Amoreiras, pedalando pelas sulipas da linha, o que acabou por ser um gozo tremendo e um belo momento de diversão.
Enfrentámos logo depois uma bela parede, valendo-nos o fato de ser asfaltada e que nos sacou uns belos arfanços. Mas nada comparado com o que nos esperava para o final da nossa aventura.
Logo ali pela zona da Vedeira, enfrentámos um bom par de veredas bem pedregosas, de calçada, pondo à prova os nossos dotes técnicos, que quase toda a malta venceu. Uns com mais, outros com menos dificuldade, mas foi arrepiante e bem adrenalínico.
Como se não bastasse, mais do mesmo, com um outra espetacular vereda por uma estreita calçada escorregadia, que nos levou à Fonte do Concelho.
Daqui até a fina,l foi terrível, com a malta empurrando o pedal por uma inclinada calçada romana, até mesmo às portas da vila, terminando mesmo junto aos WC públicos ali existentes.
Um momento para descansar e relaxar, com a bela ajuda das magnânimas paisagens que ali se avistam, e toca a arrumar as bikes e restante material, nas viaturas que estavam logo ali estacionadas num dos parques auto.
Já prontinhos, descemos à Portagem, agora nas viaturas e, numa das tascas ali existentes, degustámos uma carninha de alguidar, seguindo-se umas bochechas de porco preto, arrematadas com uma sopinha bem à moda como gosto, tronchuda e grossa.
Regresso à cidade já com a noite na sua primeira hora e já com os neurónios a pensar na próxima aventura, inicialmente prevista para o próximo mês de Fevereiro, caso o S. Pedro permita.
Um excelente grupo de malta, o do costume, uns trilhos para não esquecer o que fomos aprendendo ao longo dos anos, magnificas paisagens e uma aventura daquelas que a gente gosta. Entre amigos, conhecendo novos lugares e novas gentes.
Vêmo-nos nos trilhos, ou fora deles.
AC
Vídeo:
Marvão - Valência Alcântara from actrilhos on Vimeo.
Comentários
Mais uma internacionalização de grande nível, com uma reportagem a condizer!
Abraço
Silvério