Avançar para o conteúdo principal

"GR113 Ruta del Tajo (1º. Dia Albarracin-Peralejos de las Truchas)

O Caminho Natural do Tejo transporta-nos por mais de 1000 kms, pelas margens do maior rio da Península Ibérica.
Desde o seu nascimento, nos Montes Universais, na Serra de Albarracin, até à fronteira portuguesa em Cedillo, percorre paisagens intermináveis e de grande beleza, ao mesmo tempo conta muito da sua história e da cultura da Ibéria interior, atravessando de este a oeste as províncias de Teruel, Guadalajara, Madrid, Toledo e Cáceres.
Era um projeto de aventura que deveria ter sido concluido há dois anos atrás, não fosse uma "maleita" que me lixou os planos.
O ano passado foi mais de preparação e este ano, com a companhia do meu irmão Luís, metemos mãos á obra.
É um percurso duríssimo, para quem pedala com alforges, sobretudo nas primeiras três etapas e com uma logística muito complicada, pois para chegar a Albarracin de transporte público é necessário tomar vários transportes, sempre a embalar e desembalar a bicicleta e de Teruel a Albarracin seria de já a pedalar.
Mas graças a um grande amigo do meu irmão e agora meu, o Grande Constantino. Já deve haver muitos poucos como ele. Grande disponibilidade e grande ajuda, sem a qual seria bastante complicado chegar a Albarracin, a não ser que alguém nos fosse lá levar e voltasse. Seriam de rajada 1300 kms.
Mas o amigo Constantino foi-nos levar a Albarracin, depois de termos viajado até Navalcarnero na viatura do meu irmão, guardando a nossa viatura em local recatado até à nossa chegada a Toledo, onde posteriormente nos iria buscar.
Não posso esquecer o amigo Santiago, um espanhol castiço e bem divertido que ajudou nestes transferes.
Já em Albarracin, ficamos alojados no Hotel Arábia, por acaso muito bem alojados e depois de guardadas as bikes, fomos dar uma passeata pelo bonito "pueblo" e jantar num restaurante na Plaza Mayor.
Logo nesse dia verificamos o que nos esperava no dia seguinte ao sair de Albarracin.
Depois do merecido descanso, abandonamos aquela belíssima cidade, também conhecida como "Ninho da Águia", por se encontrar numa colina a 1200 metros de altitude, rodeada por um vale profundo criado pelo Rio Guadalaviar que atua como um fosso natural, protegendo quase toda a cidade.
Depois de uma noite mais ou menos bem dormida, abandonamos a cidade subindo pelas suas íngremes ruelas, com passagem pela Plaza Mayor, onde atestamos os bidons.
A dificuldade aumentava consoante ganhávamos altitude, complicada pelas várias curvas em Z, mas enfeitiçados com tanta exuberância, até que chegamos ao Mirador de la Escombrera e paramos para um último adeus àquela fantástica cidade de traços medievais, a que o nosso subconsciente prometia que um dia iria voltar.
Depois das últimas fotos continuamos a subir pelo caminho de Valdemán até ao topo da colina.
Passamos pela Masia de la Rochia, uma quintarola já em estado de degradação e iniciamos a descida.
A partir deste ponto começamos a descer para o Barranco de los Moñigueros.
Passado o Puntal de António cruzamos uma estrada asfaltado e ladeamos o Rio Gadalaviar em direção às Torres de Albarracin, a primeira povoação do percurso e onde "desayunamos con un café con leche e tostada con tomate e jamon" Uma delícia.
Depois de "un cafézito solo e cortito" continuamos a nossa aventura, agora em direção à nascente do Rio Tajo/Tejo pelo Barranco de las Fuentes, onde giramos à direita cruzando o Valle de la Loma, num constante sobe e desce, até ao "Cañon" do Rio Guadalaviar.
Entramos seguidamente na estrada que segue para Villar del Cobo, mas um par de kms depois, numa curva apertada, seguimos pelo estradão e cruzamos o estreito vale até cruzarmos o "Arroyo del Rollo", onde entramos num bonito bosque que nos levou até à origem do Rio Tejo . . .a sua nascente.
"Se dice que la água del Tajo incha la tripa e afloja el badajo". Tive que beber água do Tejo, e num ou outro riacho, por dificuldade em encontrar fontes no caminho, mas também saciei a sede com umas belas "cañas".
Depois de uma visita um pouco mais demorada e recolher um pouco de água da pequena nascente, tiramos as fotos da praxe ao Rei Tago.
"Tago era o nome de um rei Ibéro que foi cruelmente assassinado por Asdrúbal segundo Sílio Itálico. Tago era um rei de grande beleza e coragem. Foi morto e pregado a uma cruz para que o seu povo o pudesse ver."
"Segundo uma outra versão da lenda Tago teria sido o quinto Rei da Hispania, e deu o nome ao rio Tejo."
A partir daqui entramos numa espetacular vereda que se adentrou em bonitos bosques e verdejantes pradarias ladeando o rio, ainda criança, passando por belos locais como Tesorillo, Valdeminguete, La Cerrada e Las Arenillas.
Durante cerca de 12 kms fomos serpenteando por lugares únicos e de beleza impar, tomando depois o rumo a La Herradura, onde se encontra a Torre de Escombrar.
Uma subida difícil com a temperatura a querer chegar aos 40º mas o que nos era permitido ver era simplesmente fabuloso. Selvagem, inóspito e despovoado. Uma marcante recordação que vai perdurar até sempre.
O terreno tornou-se mais baldio e o caminho muito pedregoso. Cruzamos o Arroyo de la Cañada Magosa e subimos pela Encusta del Cañuelo durante cerca de 1,5 km,
Descemos para o Arroyo de los Huecos, que ladeamos durante algum tempo, entrando depois num bosque de largo estradão.
Deixamos o bosque e seguimos pelo caminho de "las Sanguilhas" até à Ermita de S. Louerenço.
Tinhamos já 66 kms pedalados, algum cansaço e não tinhamos ainda encontrado qualquer local onde pudessemos almoçar.
Foi-nos valendo as barrinhas tipo XL que levava e que foram atenuando um pouco a vontade de comer algo mais ao jeito de almoço.
Cerca de 30 kms nos separavam do final que tínhamos programado para esta primeira etapa e tínhamos que ter cuidado para evitar o homen da marreta.
Gosto da autonomia e de cruzar locais onde saber sobreviver é algo que me motiva.
Levávamos tenda e saco cama para a eventualidade de não chegarmos a uma povoação onde pudéssemos dormir, mas lá nos fomos safando.
 Depois de um breve descanso junto à Ermida, descemos a Cuesta de las Sanguillas e entramos na zona del Navazo, árida e muito pedregosa, onde pedalar era um verdadeiro suplício com a bike carregada com os aforges. Mas metro a metro lá íamos ganhando kms até que chegamos a uma clareira onde avistamos a garganta do Rio de La Hoz Seca. Fantástica aquela paisagem que nos fazia transportar aos cenários de alguns dos filmes do Spilberg.
Descemos em zig zag até ao rio que cruzamos por uma ponte de madeira, virando depois à esquerda, seguindo o caminho até à Ermita de Ribagorda.
Já estavamos perto do final que programamos para este primeiro dia e após mais uns kms por estradão, pedalámos por várias veredas, algumas bastante técnicas, subindo ao alto das Quebrantadas.
Chegados ao alto, o que vimos deu-nos novo alento. Lá no fundo, no vale, estava a povoação de Peralejos de las Truchas, o nosso final de etapa.
Ficamos alojados no Hostal del Tajo, onde tomamos o banhinho retemperador, bebemos umas fresquissimas carlsberg e jantamos como se já há um mês não comêssemos.
Foi um dia fantástico, bastante duro e recheado de boas peripécias. Paisagens únicas e trilhos quase indiscritíveis.
Ultrapassamos o primeiro dia cumprindo o nosso objetivo de chegar a Peralejo de las Truchas. 90 kms estavam já arredados da quilometragem final mas ainda faltam mais de quatro centenas para chegar a Toledo.
Quando tiver disponibilidade reportarei aqui o relato do segundo dia.
Fiquem bem.
Vêmo-nos nos trilhos, ou fora deles.
AC

Comentários

Mensagens populares deste blogue

"Passeio de Mota pela Galiza"

Mesmo com a meteorologia a contrariar aquilo que poderia ser uma bela viagem à sempre verdejante Galiza, 9 amigos com o gosto lúdico de andar de mota não se demoveram e avançaram para esta bonita aventura por terras "galegas" Com o ponto de inicio no "escritório" do João Nuno para a dose cafeínica da manhã marcada para as 6 horas da manhã, a malta lá foi chegando. Depois dos cumprimentos da praxe e do cafezinho tomado foi hora de partir rumo a Vila Nova de Cerveira, o final deste primeiro dia de aventura. O dia prometia aguentar-se sem chuva e a Guarda foi a primeira cidade que nos viu passar. Sempre em andamento moderado, a nossa pequena caravana lá ia devorando kms por bonitas estradas, algumas com bonitas panorâmicas. Cruzamos imensas aldeias, vilas e cidades, destacando Trancoso, Moimenta da Beira, Armamar, Peso da Régua, Santa Marta de Penaguião, Parada de Cunhos, Mondim Basto e cabeceiras de Basto, onde paramos para almoçar uma bela &quo

"Rota do Volfrâmio <> Antevisão"

A convite do meu amigo Nuno Diaz, desloquei-me no passado sábado à bonita Praia Fluvial de Janeiro de Baixo para marcar um percurso em gps a que chamou "A Rota do Volfrâmio". É um percurso circular inserido em paisagens de extrema beleza e percorrido em trilhos diversificados maioritáriamente ladeando a Ribeira de Bogas e o Rio Zêzere em single tracks de cortar a respiração. Soberbo!!! Como combinado, pelas 07h passei pela Carapalha, onde mora o Nuno, para partirmos na minha "jipose" em direcção à Aldeia de Janeiro de Baixo. Parámos ainda no Orvalho para bebermos o cafézinho matinal e pouco depois lá estávamos nós a estacionar a "jipose" no parque da bonita Praia Fluvial de Janeiro de Baixo. Depois de descarregar as bikes e prepararmos o material, lá abalámos calmamente em amena cavaqueira, guiados pelo mapa topográfico rudimentarmente colocado no "cockpit" da bike do Nuno, pois parte do percurso também era desconhecido para ele, pelo menos a pe

"Passeio de Mota à Serra da Lousã"

"Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio - e eis que a verdade se me revela." (Albert Einstein) Dia apetecível para andar de mota, com algum vento trapalhão durante a manhã, mas que em nada beliscou este esplêndido dia de passeio co amigos. Com concentração marcada para as 08h30 na Padaria do Montalvão, apareceram o José Correia, Rafa Riscado, Carlos Marques e Paulo Santos. Depois do cafezinho tomado acompanhado de dois dedos de conversa, fizemo-nos à estrada, rumo a Pampilhosa da Serra, onde estava programada a primeira paragem. Estacionamos as motas no estacionamento do Pavilhão Municipal e demos um pequeno giro pelo Jardim da Praça do Regionalismo e Praia Fluvial, indo depois comer algo à pastelaria padaria no beco defronte do jardim Abandonamos aquela bonita vila, não sem antes efetuarmos uma pequena paragem no Miradouro do Calvário, com uma ampla visão sobre aquela vila tipicamente serra, cruzada pel