Ontem foi dia de mais uma aventura asfáltica pela bonita Serra de Bejar e parte da Cordilheira de Gredos, com a subida aos cumes dos Puertos de Honduras, Tornavacas, Tremedal, a sempre dificil Covatilla e a belíssima La Garganta.
Uma dura etapa de alta montanha, se profissionais fôssemos, mas lindíssima para nós, cicloturistas de aventura, em que o tempo e a proeza desportiva não têm um valor significativo.
O espírito de aventura, a diversão, a beleza dos locais que visitamos, o intercâmbio com outras gentes e também a boa caña e a gastronomia, independentemente da do grau de dificuldade, são para nós o real motivo para nos deslocarmos e usufruirmos deste espírito, desta forma de estar e usar a bicicleta como forma de diversão e aventura.
E ontem foi um desses dias.
Convidei mais alguns amigos, que não puderam estar presentes e, na companhia do meu irmão Luís, partimos em busca de aventura.
Eram 05h30 quando abandonamos a cidade em direção a Aldeanueva del Camino, ali mesmo encostada a Hervás uma dos mais conhecidas aldeias daquele recanto da Cordilheira de Gredos.
"Desayunamos" no bar/restaurante dum hostal cujo nome já não recordo e onde deixamos estacionada a viatura no telheiro privativo.
Preparamos as bikes e restante material e demos início à nossa aventura, que iríamos terminar 144 kms depois.
A primeira povoação que cruzamos, foi precisamente Hervás, antiga aldeia dos Reinos de Castilla e bem conhecida pelos seus monumentos de judiaria e onde demos início a um dos mais bonitos "puertos de montanha" que transpusemos . . . Honduras.
Tem 14 kms de estensão com uma pendente média de 5/6%. Os primeiros 7 kms foram feitos cruzando uma bonita floresta de carvalhos, pinheiros e castanheiros, num traçado sinuoso e onde o sol mal conseguia penetrar.
Em plena ascensão, que endureceu um pouco nos últimos kms, com uma ou outra curva onde a pendente chegou aos 9/10 %, a visão sobre o impressionante Valle de Ambroz e a aldeia de La Gargantilha eram algo de fabuloso.
Depois de cruzado aquele belo passo de montanha, descemos ao Vale de Jerte, uma também bonita descida bastante curvilínia e onde a obrigatória paragem para degustar as belas cerejas, que dão fama àquele bem conhecido vale, foi efetiva.
Já no Vale de Jerte, fomos subindo ligeiramente até à povoação com o mesmo nome. Aqui a pendente agudizou-se um pouco até Tornavacas, outra povoação, onde paramos para a primeira caña do dia e uma espécie de alento para a subida daquele "puerto"
Já refrescados e depois de atestar bidons na fonte à beira da estrada, demos início à segunda passagem de montanha do dia . . . o Puerto de Tornavacas.
Com 14 kms de extensão e uma pendente média de 5/6% é uma subida não muito difícil que vai abandonando o belo Vale de Jerte, famoso pelos seus enormes cerejais.
Já no alto, seguimos para Puerto Castilla, uma povoação alguns kms mais à frente, onde viramos à esquerda para enfrentar o terceiro puerto do dia . . .o Tremedal.
Chegamos a aldeia de Santiago de Aravalle e na saída demos com uma manada de toiros de casta duvidosa, bem negrinhos, que mais pareciam "miúras". Que respeitinho!
Os condutores da manada, não nos deixaram passar, pelo perigo eminente que seria aproximarmo-nos de tais bichos, pelo que, nos mantivemos quietinhos, sempre na traseira dos cavalos.
Tivemos que gramar aquela pachorrenta procissão durante o trajeto de Santiago de Aravalle até Solana de Ávila, onde os destinos se separaram.
Voltamos a atestar bidons e seguimos em busca do início do Tremedal, por uma bonita e pitoresca estradinha, com passagem ainda por Mazalinos.
Pouco depois, numa viragem apertada à esquerda, aí estava ele o Puerto de Tremedal.
São 11 kms bem duritos, por uma estreita estradinha pitoresca, onde os pneus se agarram ao asfalto algo rugoso. Apesar da pendente média se situar entre os 6/7%, tem algumas zonas que chegam aos 13%.
Culminamos a ascensão ao passar por um passadiço de gado, lá mesmo no alto, onde a visão sobre o Vale de Ambroz é algo de espetacular.
A descida a Becedas foi feita com cautela pelo mau estado do piso evitando a todo o custo o "furo maldito" que não aconteceu.
Em Becedas, numa castiça rua de aldeia, abancamos na esplanada de um dos restaurantes locais e bebemos um belo par de "cañas" e um daqueles bocadillos em que ficamos a olhar por onde começar, Que bem que me soube. Um alento para a "terrífica" que estava a seguir . . .a subida à temida Covatilla.
Subir à estação de sky de "La Covatilla" pelas 15h00 com a temperatura a ferver entre os 40/42 graus, é mesmo para quem não se preza. Mas será que os desafios têm que ser sempre pela fresquinha da manhã ou das últimas horas do dia. Claro que não. Um desafio é sempre um desafio, mesmo na hora do calor e já com três" puertos" no "papo". De vez em quando tenho destes devaneios! Já deve ser da idade!
Já com o papinho cheio, seguimos para La Hoya, subindo o seu pequeno "puerto" que nem acrescentamos à contagem e demos início à descida para o cruzamento de "La Covatilla"
Começa bem com um par de kms quase planos para depois se iniciar uma terrível seção de 4kms entre os 13/15%.
A partir daqui nunca baixa dos 10% até chegar às antenas, com a sua terrivel rampa de 17%, onde há um ligeiro descanso. Nalgumas curvas, a pendente chega aos 18% e a parte final mais suavizada, é o ânimo para chegar ao final.
Lá no alto, descansamos convenientemente, sobretudo deixar que passasse a tremideira e que o sangue voltasse a circular normal pelas mãos, depois de tanto apertar o guiador e manetes. Acho que também mordi a língua!
Vingamo-nos na descida, pois já não poderia tirar mais fotos, porque a minha digital deu o "berro" com uma queda da bicicleta do meu irmão ao pretendermos uma foto de grupo.
Entramos na estrada que segue para Bejar e mais à frente, viramos à esquerda para Navacarros, onde malhamos mais uma "caña" frequinha, antes de chegar à bonita Villa de Candelário, que bem conheço e onde nunca me canso de visitar.
Ontem visitei-a de bicicleta, uma aspiração já concluída.
Faltava-nos a conquista do último puerto, o de "La Garganta" por Candelário. Tinha-o feito no ano passado, pela outra vertente, por Baños de Montmayor.
Era o rabinho para esfolar e lá o esfolámos, subindo divertidamente e apreciando a bela paisagem que o envolve e ladeando o lindo "Embalse de Navamuños".
Lá no alto, rejubilamos por ter concluído a parte montanhosa do percurso e ainda estávamos ali para as curvas . . .meio empenados, mas felizes.
Até ao final, nada mais fizemos que descer, primeiramente até La Garganta, a povoação que dá o nome ao "puerto" e depois até Baños de Montmayor, já a uns escassos 4 kms do final, a Aldeanueva del Camino, onde tinhamos aparcado a viatura.
Depois das bicicletas arrumadas e restante material dentro do carro fomos de novo até ao bar onde algumas horas antes tinhamos "desayunado" para nos deliciarmos agora com uma bela caña" e um simpático "pincho".
Quase duas horas depois já estávamos de novo em casa, aproveitando a viagem para combinar a próxima aventura, mal as tremuras passem e o rabinho estabilize .
Fiquem bem.
Vêmo-nos nos trilhos, ou fora deles.
AC
Comentários
Um passeio de fazer "inveja" :) e de facto, muito inspirador!
Muitos parabéns por saberem tirar o melhor deste hobby/paixão e obrigado pela excelente reportagem e partilha!
Pelo perfil do percurso deste passeio, até se podia chamar "Prazer em 5 Puertos"! :)
Grande Abraço e até um passeio desta grandeza, ou de outra qualquer, que o importante é "Pedalar para Descontrair", "Pelo Puro Prazer de Pedalar com Amigos"!
Silvério