Em equipa com o Nuno Eusébio, fomos pioneiros na primeira Edição do Trip Trail Geopark Naturtejo, uma organização da Horizontes e únicos participantes de Castelo Branco.
Uma prova com uma dureza já considerável e com um traçado bem conseguido e rico em termos paisagísticos.
Sei que à partida, o projecto tinha uma outra dimensão, mas que derivado a compromissos não assumidos, nomeadamente pelo Geopark, veio condicionar bastante a organização, que se viu obrigada a alterações de última hora, mas que ainda assim e em meu entender, conseguiu apresentar um projecto bem conseguido, com um bom traçado e uma equipa jovem e dinâmica, fazendo votos que a Horizontes não se fique pela primeira Edição, pois há muito para mostrar cá no nosso querido interior.

Quanto à prova em si, a expectativa era grande e o desafio estava aí, mesmo em cima da linha de partida no primeiro dia.
Eu sentia-me preparado e o meu companheiro Nuno tinha-se aplicado no último mês, mas eu sabia à partida que este desafio lhe iria ser bastante difícil, pois sem tempo para treinar era bastante difícil, pois três dias com kms e acumulado de subidas considerável, é preciso dedicar muitas horas ao treino e de forma algo específica, o que ele não tinha e apenas um ou dois dias no fim de semana é insuficiente para eventos deste tipo em dias seguidos.
Mas no primeiro dia lá partimos entusiasmados para a primeira etapa com ligação das Termas de Monfortinho a Vila Velha de Rodão, numa extensão de 144 kms.
Um percurso já bem conhecido, com passagem no Vale da Torre e nas míticas calçadas romanas de Monsanto.
Saímos de Monsanto pelo single track da Capela de S. Pedro de Vir a Corsa e rumámos a Idanha-a-Velha e Idanha-a-Nova com passagem por Alcafozes e Sra do Almurtão.
Na Sra da Graça, esperava-nos a terrível calçada que fez suar a estopinhas, apesar do sol andar "acabrunhado" nesse dia.
Saimos de Idanha pela Praça de Toiros em direcção ao Couto da Várzea, onde chegámos numa rápida descida, para atravessarmos depois parte da campina até ao Ladoeiro.
Com passagem pela barragem do Monte Grande, encostámos ao Rio Ponsul no Monte do Escrivão, seguindo-o até à Ponte Romana, para subir depois até Lentiscais pelo Monte do Pardal.

À entrada de Alfrívida virámos à esquerda para a Capela da Sra dos Remédios e em rolantes estradões passámos o Monte Fidalgo, onde mais à frente nos esperava a fantástica paisagem sobre o Rio Tejo na Barragem de Cedillo.
Segui-se a passagem por Perais e os "oscilantes" trilhos de pedra rolante, que para final de etapa, nos fez apanhar uns belos abanões.
Fizemos 8h26m e sem que lutássemos de qualquer forma pela geral, acabámos por ser a quinta equipa a terminar a etapa.

No segundo dia e segunda etapa, o dia não iria ser nada meigo para nós. Um bom acumulado, subidas dificeis, quer pela inclinação, quer pela parte técnica e logo para começar e ninguém adormecer, tivemos como digestão para o pequeno almoço a subida à Serra de Vila Velha com início junto ao Quartel dos Bombeiros. Quem não se lembra da "deliciosa" descida dos Trilhos da Açafa. Agora a subir. Uff!!!
Descemos à Portela do Perdigão com uns trilhos algo técnicos e ainda não tinha parado de ofegar, já tinha à minha frente a ainda mais inclinada subida à Serra do Perdigão, mas as paisagens proporcionadas lá no alto fizeram esquecer a dor de pernas.

Agora e para mim um pouco mais complicado era a descida para a Ladeira, ao tipo de Down Hill e com uma inclinação considerável e quando para lá virei, já não consegui parar e com o coração aos saltos lá tentei manter a bike direita por cima de todos aqueles calhaus. Lá em baixo e ao olhar para cima, senti-me deveras satisfeito de ter conseguido. Afinal não é assim tão dificil, eu é que sou um pouco "medricas" e corto-me a brava.

Subimos Sobral Fernando e pedalámos no fantástico estradão pelo Vale Almorão e que nos levou aos Carregais.

Daí continuámos ladeando a Ribeira do Alvito até à entrada do Casal da Ribeira, virando à esquerda numa longa subida até à Ferraria e Catraia Cimeira.
Nos Montes da Senhora deixámos as bikes à guarda do elemento que procedia ao controle de passagem e fomos ao café beber uma bebida fresca e trincar uma sandes de presunto bem ornamentada, que isto de só pedalar faz muita fome.
Nos Montes da Senhora deixámos as bikes à guarda do elemento que procedia ao controle de passagem e fomos ao café beber uma bebida fresca e trincar uma sandes de presunto bem ornamentada, que isto de só pedalar faz muita fome.
Sempre, ora a subir, ora a descer arrastámos-nos até Proença-a-Nova, com passagem por Sesmos, Figueira e Vale de Urso, terminando esta segunda etapa já a ultrapassar tempo limite de seis horas.

O Nuno Eusébio via-se claramente que não tinha conseguido recuperar bem do dia anterior e que vinha em sofrimento, pois no single track da Foz do Cobrão tinha dado uma queda e desde aí vinha a queixar-se da perna.
A terceira e última etapa, a etapa rainha do Trip Trail esperava-nos e tal como a anterior, uma boa subida para digerir o pequeno almoço. A subida ao cruzeiro.
Logo aí vi que esta etapa iria ser complicada. O Nuno Eusébio vinha em sofrimento com dor na perna e eu desde logo aconselhei-o a desistir. O importante era o seu bem estar e não a prova em sí. Para o ano há mais.

Mas ele corajosamente queria tentar chegar ao fim e lá foi pedalando, mas as subidas eram longas e penosas, até que no alto do Vergão, mesmo junto ao Posto de Vigia, após a chegada às Eólicas, a dor foi mais forte e ali foi recolhido por uma viatura da organização.
Mas eu fui lá para ser um finisher da prova e informei a organização de que iria continuar sózinho. Nada havia para ganhar e nada havia para perder. A outra equipa master ainda não tinha conseguido acabar nenhuma das etapas, também por problemas mecânicos e a nossa penalização seria muito inferior à deles e como tal a classificação master já era nossa.
Fomos os últimos à passagem pelas eólicas do Vergão. A ultima equipa já levava uns bons minutos de avanço quando parti do Alto do Vergão, após o meu companheiro ter sido assistido.
aproveitei a longa descida para me lançar e alguns kms depois alcancei a equipa que me antecedia, que estava no Trip Trail com um espírito meramente lúdico e numa boa lá iam palmilhando kms e divertindo-se à sua maneira, não perdendo nenhuma prova de cereja, sempre que encontravam no seu caminho uma árvore daquela espécie.
No Carvalhal fiz-lhes companhia na apanha da cereja que comemos a nosso belo prazer. E que boas que elas eram.
Continuámos juntos durante alguns kms, até que resolvi seguir sózinho. Quiz saber até que ponto era capaz de acabar o Trip Trail num ritmo mais vivo e lancei-me em busca de outras equipas.
Em solitário lá fui pedalando agora sem a companhia do Nuno, que me deixou um pouco degostoso, pois é um excelente companheiro e gostaria bastante que tivesse acabado o desafio.
Passei as bonitas praias fluviais da Aldeia Ruiva e do Malhadal, subindo às Corgas e descendo ao Pedintal.
Passei pela Ribeira da Isna e ultrapassei os complicados trilhos da Serra dos Alvelos, onde após cruzar a bonita aldeia abandonada dos Tojais sofri bastante na didicil subida às eólicas do Cabeço do Rainho. seguiram-se uma sequência de descidas bastante técnicas em cascalho onde já todo o corpo doía, tal a a concentração para me manter em cima da bike.
Contornar o cabeço seguinte foi complicado pois fartei-me de pedalar e tinha a sensação de que não saía do mesmo sítio e à laia de tortura chinesa, com Oleiros aos meus pés e nunca mais lá chegava.
Após a fonte, onde se encontrava o último controle, bebi um pouco daquela água bem fresquinha e aí vai ele barreira abaixo em alta velocidade. Mais umas subiditas, agora um pouco mais frouxas e Oleiros ia-se aproximando. O ânimo estava agora em alta e sabia que ía concluir com algum à vontade o meu desafio. Pelo caminho ultrapassei ainda cinco das equipas concorrentes e acabei por ser o sexto a chegar ao final, após estar em último no alto do Vergão.
Apenas aumentei o andamento, porque também queria esclarecer algumas dúvidas a mim próprio, não sendo esse o nosso objectivo como equipa, mas apenas terminarmos a prova.
Foi mais uma aventura concluída estando já a pensar na próxima, que certamente será para breve.
O amigo Silvério pegou na sua asfáltica e de Castelo Branco deslocou-se a Oleiros para connosco confraternizar um pouco. Obrigado amigo pelo encorajamento e espero ver-te para o ano no Trip Trail.
Fiquem bem
Vêmo-nos nos trilhos,
ou fora deles.
AC
Comentários
Em relação ao companheiro de viagem, parabens também pela coragem, pois foi mesmo até poder, rápidas melhoras e boas pedaladas.
Antes da mais quero dar-vos os parabéns amigos, pela BOA prestação nesta "loucura", que significou nada mais nada menos que o 1º lugar Masters, sem duvida alguma só para MESTRES.
Também não tenho dúvidas que, não fosse o azar do Nuno, e teria escrito parabéns pela EXCELENTE prestação. Agora o que é preciso é recuperar dessa mazela, porque com a coragem e o querer já plenamente comprovados, para o próximo ano está garantido.
Como entre amigos não há segredos, não vou esconder que, durante os três dias desta loucura, eu também sofri muito…, de inveja (feio???) saudável, porque sei que o prazer de pedalar proporcionado me iria “descontrair”.
Para a próxima edição vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para sofrer de outra forma, e, como o Paulo "pediu", com a camisola que envergo, com muito orgulho, na fotografia que o AC incluiu nesta reportagem, o que aproveito para agradecer.
UM ABRAÇO
Silvério
Quanto à classificação master, foi fruto do acaso, havia apenas mais uma equipa concorrente e que com problemas mecânicos nas duas primeiras etapas, não as concluiu.
De qualquer forma penso que estaria à altura de a conquistar com naturalidade.
Mas isso é puramente secundário. O importante mesmo foi a participação, o convívio e a camaradagem.
AC
Podemos MUDAR de mulher, de religião, de partido politico, etc..., mas NUNCA de clube desportivo, sim, não é só futebol, como outros por aí. Para aprenderem alguma coisa, a seguir ao Barcelona é só o clube com mais troféus na Europa.
Depois dizer:
É com muito orgulho que envergo esta camisola, simplesmente a mais linda, (domingo, só para veres como é, já levas com ela). É claro que não é para qualquer um, é preciso ter o gosto requintado.
Eu, vestido de verde ou de não vermelho, também chego sempre ao fim, só que sempre em linha com os meus valores e objectivos, para além disso é para vós.
Um abraço
Silvério
Cumprimentos.
Tê