Avançar para o conteúdo principal

"XIX Troia - Sagres # A loucura"

Pelo 2º. ano consecutivo, resolvir efectuar a mítica ligação Troia - Sagres em bicicleta numa extensão de 202 kms.
Este ano acompanhou-me o meu amigo Joaquim Cabarrão, mais um veterano na idade e entusiasta nestas andanças da bicicleta.
Lá conseguimos convencer as nossas "Marias" a quem agradeço verdadeiramente o apoio dado e que sem elas, teria sido quase impossível levar a bom termo esta nossa obstinação.
Este ano foi o Joaquim o relações públicas e foi ele quem tratou dos alojamentos do grupo.
Saímos de Castelo Branco pelas 14h30 de sexta feira em direcção a Grândola, onde ficámos alojados no Hotel D. Jorge de Lencastre.
Como preparativo para o grande embate do dia seguinte, havia que alimentar forte e como tal, assentámos arraial no Restaurante "A Talha", onde nos mandámos a um belo bacalhau com migas gatas, maravilhosamente assistido por um tinto alentejano bem encorpado e complementado por uma bela sobremesa caseira.
A pernoita foi um pouco mais cedo que o habitual, pois no dia seguinte era dia duro e de sol a sol, ou melhor de chuva a chuva!!!
Pelas 07h30 do dia D, 13 de Dezembro, uma data que nunca mais vou esquecer e após um farto pequeno almoço de bufet, partimos em direcção a Tróia para dar início à nossa grande aventura desta ano.
Pelo trajecto e já a uma vintena de kms de Tróia era já inúmeros os grupos de malta e individuais que já pedalavam em direcção ao belo Forte de Sagres.
As previsões meteorológicas para este mítico dia eram aterradoras e afastaram muita malta que tinham desde londa data agendado este dia para a travessia mas acabaram por desistir face às previsões.
Ainda assim e segundo lí nalguns comentários na net, foram cerca de 500 os loucos aventureiros que se meteram à estrada desafiando a chuva e o vento e com um único objectivo. A conquista da bonita Sagres, tão bela e tão longínqua!!!
A chuva, os fortes ventos de frente e laterais com rajadas a rondar os 80/90 kms/h não demoveram estes gloriosos malucos das máquinas roladoras na quase desumana tarefa de pedalar durante mais de 200 kms na ligação de Troia a Sagres, num dia medonho e diluviano.
Eu e o meu amigo Joaquim após prepararmos as nossas lustrosas meninas (bikes), "mal sabiam elas o que as esperava" e o restante material, vestimos roupinha quente e térmica, cobrindo-a posteriormente com um bom impermeável
Tirámos a 1ª. foto e demos início às primeiras pedaladas em direcção a Sagres.
Alguns kms mais à frente a chuva começa a caír com mais regularidade e o vento a intensificar-se, soprando de WE causando-nos alguns embaraços, mas nada que pusesse em causa a nossa convição de que iríamos levar até ao fim esta aventura.
Até Sines, o vento e a chuva ainda eram suportáveis, mas a partir daí passou a ser uma autêntica tormenta com ventos muito fortes e de rajada com chuva intensa, que tocada a vento até doía quando me batia na cara, mal conseguindo abrir os olhos para ver a estrada.
Os óculos que inicialmente tinha colocado, já tinham sido devolvidos hà muitos kms atrás. Conseguir ir na roda do companheiro era um suplício, pois não havia uma zona onde me sentisse bem. Ou era a água lançada pelo pneu traseiro que me cegava completamente, ou o vento que não me deixava manter uma trajectória, pelo que era impossível ir bem na roda. Por vezes as rajadas de vento levavam-me de um lado ao outro da estrada.
A descer quase nunca consegui atingir velocidades superiores a 30 kms/h pois perdia o controle da bicicleta com as rajadas de vento. Um martírio!!! Mas era um desafio e era para ser superado!!!
Três vezes mudei de luvas para manter as mãos em condições de lidarem com o "cockpit" da máquina e mantê-las quentes para não perderem a sensibilidade. As afamadas meias "Sealskinz" ficaram-se pela publicidade, pois na prática morreram afogadas.
Ainda assim, este ano tive a sorte de ter o Joaquim por companheiro, pois é um excelente rolador e um daqueles veteranos em que a palavra desistir não está no seu vocabulário após ter começado algo e em constante espírito de entre ajuda lá fomos pedalando, alternando constantemente em luta contra a fadiga e em rotações mais altas na pedalada, pois no nosso entender com este tempo um dos piores erros eram não manter os músculos bem aquecidos.
Durante todo o trajecto foi uma ultrapassagem constante a outros companheiros, alguns bastante debilitados e as desistências eram às dezenas.
Durante todo o percurso mantivemos a esperança de sermos alcançados por algum grupo, ou alguém com quem pudéssemos partilhar e melhor gerir o esforço, mas não fomos alcançados por ninguém e lá mantivémos sempre a nossa cadência até final.
A intemperie atingiu o seu auge após ter ultrapassado a subida de Odeceixe, assim como as desistências. Muitos companheiros encostados à espera de assistência, muitas viaturas que se nos adiantavam já com as bikes no tejadilho, outras que retrocediam para apanharem os desistentes e outros aventureiros como nós, em cujo rosto de sofrimento e de desânimo já se augurava que o final para eles não estaria muito longe. Iriam desistir. Estavam completamente esgotados. Não iriam comseguir atingir o objectivo a que se tinham proposto. Um objectivo dificil de entender para o comum dos mortais.
Naquela altura, já na zona da Carrapateira as àrvores vergavam obrigadas pelo vento, quase que em jeito de vénia e por respeito pelo esforço levado a cabo por estas dezenas de intrépidos amantes do pedal que levam o gosto de pedalar e de aventura quase até ao impossível.
Vim a saber à posteriori que a estrada na zona da Carrapateira estivera interdita ao trânsito durante algum tempo derivado à queda de pernadas de árvores.
Eu e o meu amigo Joaquim lá continuámos com a nossa aventura e apesar das dificuldades lá íamos dando uma "larachazita" de vez enquanto, numa ténue intenção de nos animarmos e pedalando chegámos a Vila do Bispo, onde entrámos na via rápida (IP). Sabía desde então que já nada nos iria afastar da glória de conquistar o nosso objectivo.
Lançando um dorido olhar sobre o horizonte nublado sobre a minha, frente vislumbrei lá ao longe um ténue casario que sabía ser Sagres. Apesar das dificuldades da progressão, pois nessa altura o vento soprava bastante forte, a alegria invadiu-me e uma amarelo sorriso aflorou nos meus lábios. Esta louca aventura tinha sido superada. Ao entrar em Sagres eu e o meu companheiro apertámos as mãos numa foto para a posteridade e no nosso pensamento uma voz eufórica gritava . . . Conseguimos!!! Prova Superada!!!
A continuar assim, acho que qualquer dia a minha "Maria" vai requerer o meu internamento no bloco de psiquiatria do Hospital cá da urbe, pois só um doido é que se mete nestas maluqueiras.
Agora, uma coisa vos digo. Sou um "doido" saudável!!!
O ano passado, com bom tempo, apesar do frio, concluí a tirada em 6 horas e quase 33 kms/h de média. Este ano concluí em 7h40 e quase 27 kms de média. Uma grande diferença!
Quero aqui realçar a amizade, o companheirismo, o espírito de equipa e a capacidade de sofrimento do meu companheiro de aventura, o Joaquim Cabarrão, sem o qual esta aventura não teria certamente o final feliz com que culminou. A ele os meus parabéns!!!
Deixo aqui também uma palavra de apreço a todos os que não conseguiram terminar esta dura travessia, por este ou por aquele motivo e deixar bem claro que, todos eles foram uns valentes e cujo mérito reconheço e por ter conseguido efectuar esta travessia sem bem as dificuldades por que passaram.
Após ler alguns comentários na net sobre a travessia, retirei este pequeno excerto, que espelha de alguma forma, a dificuldade da sua conclusão . . . "Pela 1ª. vez em 19 anos, o Homem que deu início a um "movimento sem igual" no panorama das bicicletas no nosso País, não cumpriu o objectivo!!!
Este ano também a minha digital se solidarizou com o mau tempo com clara intenção de me dificultar a tarefa de concluír este "XIX Tróia - Sagres" e simplemente avariou, morreu para as lídes fotográficas.
Valeu-me as fotos tiradas pela "Guida", esposa do meu companheiro Joaquim Cabarrão e autora da reportagem fotográfica colocada neste Post. O meu obrigado!!
No próximo ano se as "pernitas" ainda mantiverem algum vigor, lá estarei para o "XX Troia-Sagres", com quem me quiser acompanhar.

Fiquem bem
Vêmo-nos nos trilhos
AC

Comentários

Anónimo disse…
boa tarde sr. cabaço, passei so pra vos dizer k assim vale a pena, kando é, é pra ser mesmo ate ao fim...tiro o chapeu ao vosso espirito de sacrificio (gandes malucos). um abraço Pedro Roxo
Anónimo disse…
Para se conseguir atingir o objectivo com essas condições climatéricas,não basta ser "maluco". É preciso ter uma grande determnação e expirito de sacrifício e sofrimento!
Os meus Parabêns aos dois pela meta alcançada!
Um abraço
Filipe
Anónimo disse…
ola caro amigo Cabaço isso demonstra que nada é impossivel e com uma dose de camaradagem e de sacrificio todos os obstaculos são alcançaveis essa vossa prova demonstra amuita boa gente que quando existe muita vontade e determinação nenhum desafio impossivel os meus mais sinceros parabens e continuem assim um abraço SALES
carneiro disse…
27 de média nessas condições é extraordinário.

Parabéns.

Mensagens populares deste blogue

"Passeio de Mota pela Galiza"

Mesmo com a meteorologia a contrariar aquilo que poderia ser uma bela viagem à sempre verdejante Galiza, 9 amigos com o gosto lúdico de andar de mota não se demoveram e avançaram para esta bonita aventura por terras "galegas" Com o ponto de inicio no "escritório" do João Nuno para a dose cafeínica da manhã marcada para as 6 horas da manhã, a malta lá foi chegando. Depois dos cumprimentos da praxe e do cafezinho tomado foi hora de partir rumo a Vila Nova de Cerveira, o final deste primeiro dia de aventura. O dia prometia aguentar-se sem chuva e a Guarda foi a primeira cidade que nos viu passar. Sempre em andamento moderado, a nossa pequena caravana lá ia devorando kms por bonitas estradas, algumas com bonitas panorâmicas. Cruzamos imensas aldeias, vilas e cidades, destacando Trancoso, Moimenta da Beira, Armamar, Peso da Régua, Santa Marta de Penaguião, Parada de Cunhos, Mondim Basto e cabeceiras de Basto, onde paramos para almoçar uma bela &quo

"Rota do Volfrâmio <> Antevisão"

A convite do meu amigo Nuno Diaz, desloquei-me no passado sábado à bonita Praia Fluvial de Janeiro de Baixo para marcar um percurso em gps a que chamou "A Rota do Volfrâmio". É um percurso circular inserido em paisagens de extrema beleza e percorrido em trilhos diversificados maioritáriamente ladeando a Ribeira de Bogas e o Rio Zêzere em single tracks de cortar a respiração. Soberbo!!! Como combinado, pelas 07h passei pela Carapalha, onde mora o Nuno, para partirmos na minha "jipose" em direcção à Aldeia de Janeiro de Baixo. Parámos ainda no Orvalho para bebermos o cafézinho matinal e pouco depois lá estávamos nós a estacionar a "jipose" no parque da bonita Praia Fluvial de Janeiro de Baixo. Depois de descarregar as bikes e prepararmos o material, lá abalámos calmamente em amena cavaqueira, guiados pelo mapa topográfico rudimentarmente colocado no "cockpit" da bike do Nuno, pois parte do percurso também era desconhecido para ele, pelo menos a pe

"Passeio de Mota à Serra da Lousã"

"Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio - e eis que a verdade se me revela." (Albert Einstein) Dia apetecível para andar de mota, com algum vento trapalhão durante a manhã, mas que em nada beliscou este esplêndido dia de passeio co amigos. Com concentração marcada para as 08h30 na Padaria do Montalvão, apareceram o José Correia, Rafa Riscado, Carlos Marques e Paulo Santos. Depois do cafezinho tomado acompanhado de dois dedos de conversa, fizemo-nos à estrada, rumo a Pampilhosa da Serra, onde estava programada a primeira paragem. Estacionamos as motas no estacionamento do Pavilhão Municipal e demos um pequeno giro pelo Jardim da Praça do Regionalismo e Praia Fluvial, indo depois comer algo à pastelaria padaria no beco defronte do jardim Abandonamos aquela bonita vila, não sem antes efetuarmos uma pequena paragem no Miradouro do Calvário, com uma ampla visão sobre aquela vila tipicamente serra, cruzada pel