«O Alto Douro Vinhateiro é uma zona particularmente representativa da paisagem que caracteriza a vasta Região Demarcada do Douro, a mais antiga região vitícola regulamentada do mundo. A paisagem cultural do Alto Douro combina a natureza monumental do vale do rio Douro, feito de encostas íngremes e solos pobres e acidentados, com a ação ancestral e contínua do Homem, adaptando o espaço às necessidades agrícolas de tipo mediterrâneo que a região suporta.»
O meu amigo Jorge Palma comentou comigo há algum tempo que gostaria de dar umas pedaladas pela zona do Douro, local que o encanta particularmente.
Pois bem, prometi que criaria um percurso para lá irmos dar essas pedaladas, pois também eu, sou um apaixonado pelas paisagens do Douro, e não só, da gastronomia também!!!
Delineei inicialmente um percurso, que acabei por alterar, derivado à vaga de incêndios que tem assolado a região e dediquei-me ao Alto Douro Vinhateiro.
Sabia de antemão que iria ter "dureza" acrescida, mas pedalar pelas recônditas estradinhas que serpenteiam pelas curvas de nível dos espetaculares socalcos vinhateiros entre as dezenas de quintas de produção do afamado vinho do Porto, já me estava a dar "pica".
Os meus companheiros iriam gostar de certeza!
Juntaram-se a nós, por convite, o Nuno Maia e o António Leandro, pois estava fora de questão "pelotões" alongados, por entre outras razões, a logística.
Saímos no sábado pelas 15h30 em direção a Sabrosa, onde ficámos instalados no Hotel Solar dos Canavarros, uma boa opção para quem queira dar por ali uns passeios. Bom alojamento, boas vistas, bom acolhimento, umas ótimas acomodações, além de uma ótima gastronomia!
Chegámos ao final da tarde, fizemos o check in e fomos em busca de um local para jantar.
Escolhemos o Restaurante "o Solar", perto da unidade hoteleira onde nos tínhamos instalado e saboreámos uma suculenta "posta maronesa" acompanhada dum vinho da região, que nos pôs a energia a transbordar.
No dia seguinte, domingo, o "Dia D", levantámo-nos pelas 06h30 para pelas 07h00 degustarmos um pequeno almoço de buffet, repleto de muitas e boas iguarias.
Descemos ao Pinhão, local de início do nosso passeio e estacionámos a viatura junto à estação.
No dia anterior fôramos até ao quartel dos bombeiros daquela vila e pedimos para nos deixarem tomar banho no final do passeio nos balneários da corporação.
O chefe que ali estava de serviço, prontamente autorizou sem mais delongas. Um grande obrigado aos Bombeiros de Pinhão.
Depois das bikes preparadas demos inicio à nossa aventura percorrendo aquela terrível rua principal com um empedrado irregular que nos deixou logo bem despertos.
Cruzámos a ponte sobre o Rio Pinhão e iniciámos uma suave subida em direção aos socalcos vinhateiros.
Zona de rara beleza e de muitas quintas de produção vitícola, demos logo de caras com a primeira, a Quinta da Rosa, com uma vista esplendorosa sobre o Rio Douro e a foz do Rio Pinhão.
Continuámos em subida passando pelo Pesinho, Chanceleiros e Quinta da Poça até alcançarmos as Covas do Douro, uma pequena povoação cravada entre socalcos, onde numa apertada curva à esquerda, enfrentámos as primeiras duras rampas do percurso até às proximidades da Quinta de Nossa Senhora do Carmo.
Entrámos depois em sentido descendente e bastante curvilíneo pelas espetaculares curvas de nível ladeando socalcos, onde a disposição das videiras mais pareciam obras de arte. Um espetáculo!
Chegámos à antiga Estação de Ferrão e ladeando o Rio Douro absorvemos paisagens fantásticas passando pela Quinta da Água Alta, Quinta do Crasto e Gouvinhas.
A partir daqui, voltaram as rampas com alguma dureza até á aldeia de Guiães, onde virámos à esquerda, para continuarmos num sobe e desce constante até à Galafura, onde parámos para beber algo fresco e descansarmos um pouco.
Saímos da Galafura por uma ruela empedrada de considerável inclinação descendente e no final da rua, a pendente aumentou de tal forma que deixámos de ver o alcatrão. Até assustava!!! O Jorge Palma receoso, disse-me . . . oh Cabaço veja lá se é por aqui, pois se tivermos que voltar para trás, vai ser uma chatice!
Mas era por ali. Pendentes em sentido descendente, algumas a ultrapassar os 25% meteram respeito. O aquecimento dos calços e das superfícies de travagem das rodas, aliados à estreiteza da estradinha e comprimento dessas seções, faziam com em determinada altura a travagem fosse declinando. A adrenalina chocalhava cá dentro.
A paisagem . . .essa superava todos esses pequenos itens. Simplesmente soberbo!!!
Já no final desse tramo descendente, a chegada a Covelinhas foi bruta,l com a panorâmica vista lá do alto. Fazia cortar a respiração e a malta estava a adorar!!!
Passámos a estação de Covelinhas e enfrentámos uma dura secção empedrada para entrarmos numa estradinha panorâmica ladeando o Rio Douro até à estação de Bagaúste, junto ao paredão da barragem e eclusa, onde os barcos turísticos sobem do rio ao nível das águas da barragem. Um espetáculo que perdemos por pouco.
Seguimos depois pela Quinta de Valbom ladeando o Douro e com a linha do Tua a separar-nos do rio até à Quinta da Vacaria e estação do Corgo.
Ladeámos o Hotel Rural da Quinta do Vallado e seguimos em direção à ponte sobre o Rio Corgo, continuando pela Quinta da Campanhã para pouco depois entrarmos no Peso da Régua, pelo Juncal de Cima.
"Abancámos" no Restaurante Katekero numa bonita praceta junto à Ponte Pedonal e logo acima a ponte da via férrea e ainda mais alta, a ponte da via rápida. Bonito e aprazível local.
Bem recostados na esplanada, "abocanhámos" um par de deliciosas bifanas, acompanhadas doutras tantas "bjecas". Não me recordo de imediato de ter saboreado umas bifanas que tão bem me souberam. Eram uma delicia. Aquele local já ficou gravado para memória futura!
Cruzámos o Peso da Régua e saímos pelo Olival Basto e Salgueiral, continuando agora já quase sempre junto ao Rio Douro, pela sua margem direita e, passando Caldas de Moledo, Vila Marim, Bebereira, Rede, Vila Jusã, Freixieiro, Vale Pentieiro, Vale Moreira e Portela, chegámos à Ponte da Ermida, o local de passagem para a outra margem.
Enfrentámos seguidamente uma dura subida ao alto de Resende, com um calor abrasador e lá no alto, virámos à esquerda para Rendufe, para num sobe e desce suave rumarmos de novo à margem do rio, passando por Massora, Fonseca, Ponte S. Martinho, S. Martinho de Mouros, Vilarinho, Outeirinho e Barrô.
Já de novo junto à margem do rio, agora a esquerda, continuámos por Fraga, S. Domingos, Bernardo, Codorneiro, Lenço, Curvaceira, Samodães, Quinta Vale Abraão e Varais, para chegarmos de novo à ponte pedonal que liga as duas margens do rio, agora ao Peso da Régua, onde já estivéramos há algum tempo atrás.
Cruzámos a ponte e fomos de novo até ao aprazível cantinho onde se encontra o Restaurante Katekero, mas agora apenas para nos refrescarmos com umas bebidas frescas.
Voltámos a cruzar a ponte de volta à margem esquerda e entrámos na N.222 que ladeia o Rio Douro até à foz do Rio Távora.
Já num percurso completamente plano, íamos pedalando e apreciando aquelas bonitas vistas sempre com o rio como protagonista principal.
à passagem pela Barragem de Bagaúste voltámos a perder de novo a saída do barco da eclusa por pouco tempo.
Passada a foz do Rio Távora, passámos ainda por Bateiras, antes de chegarmos à Ponte do Pinhão que nos deu acesso à vila e final da nossa aventura.
Voltámos a guardar as bikes e fomos até ao quartel dos bombeiros para o merecido banho.
Mais uma vez a simpatia dos elementos daquela corporação veio ao decima. E mais uma vez um grande obrigado pela facilidade e simpatia com que nos ajudaram, facultando-nos um banhinho retemperador nos balneários do quartel.
Toda a malta estava satisfeita. A aventura superou as expetativas e valeu bem a pena aquela algo longa deslocação.
Mas para mim a aventura não se mede pelas distâncias, mas sim pela vivência, pelo sentido, pelo espírito, pela paixão!!!
Destaco um trecho de uma carta de Chris McCandless, personagem principal no livro "A natureza Selvagem":-
“Tanta gente vive em circunstâncias infelizes e, contudo, não toma a iniciativa de mudar sua situação porque está condicionada a uma vida de segurança, conformismo e conservadorismo… Tudo isso que parece dar paz de espírito, mas na realidade nada é mais maléfico para o espírito aventureiro do homem que um futuro seguro. A coisa mais essencial do espírito vivo de um homem é sua paixão pela aventura.”
Voltaremos à aventura em breve!
Fiquem bem.
Vêmo-nos nos trilhos, ou fora deles.
AC
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Roxo