O primeiro dia desta minha peregrinação, tinha sido concluído.
127 kms com alguma dureza, com passagem por alguns locais inóspitos, belos recantos, onde a natureza se revela encantadora, aldeias meias esquecidas e outras já não habitadas, gentes de rostos tisnados do trabalho nos campos e paisagens únicas, preencheram este belo dia de btt.
Alojados ao final do dia no estupendo Solar da Quinta de Santa Bárbara, situado num local altaneiro, de onde se podia vislumbrar Constância e outras povoações, da outra margem do Rio Tejo.
A Quinta de Santa Bárbara, com origens no séc. XV, pertenceu ao amigo de Camões, D. Francisco Sampayo e Mello. No séc. XVIII era propriedade dos padres Jesuítas que aqui viveram até 1759. O atual proprietário da Quinta de Santa Bárbara, apaixonado por antiguidades e restauro, adquiriu a Quinta nos anos setenta de século passado e adaptou-a cuidadosamente a uma casa de turismo rural para poder receber hóspedes, recheando-a de quadros e antiguidades.
Depois de uma última jola no Bar-Antiques, repleto de antiguidades e recheado com uma feérica Biblioteca Memória-Camões e um suculento jantar num restaurante quinhentista fomos descansar, num quarto que era uma bela relíquia do passado.
No dia seguinte, acordámos rejuvenescidos e prontos para atacar o apetecível pequeno almoço, que degustámos calmamente.
faltavam-nos 63 kms para terminar esta nossa peregrinação e o gozo estremo estava ainda por realizar, com destaque para os single tracks que acompanham o Rio Tejo durante alguns kms, nomeadamente de Constância a Vila Nova da Barquinha. Alguns até têm nome próprio, tais como . . . Luís Vaz de Camões, do Castelo, ou da Lampreia.
Depressa nos começámos a babar e não havia forma de parar.
Sem pressas, nem stress acumulado, tomámos o pequeno almoço pelas 08h00 e saímos para os trilhos já com os ponteiros a alcançarem as 09h00. Não havia pressa alguma.
Abandonámos aquele soberbo solar, onde espero voltar mais tarde, acompanhado pela minha cara metade para desfrutar dum relaxante fim de semana e descemos a Constância.
Contornámos a zona ribeirinha e subimos à entrada da ponte, para cruzar o Rio Zêzere.
Descemos logo a seguir, ao rio, para entrar no maravilhoso trilho Luís Vaz de Camões. Simplesmente brutal, com as suas inúmeras passagens aéreas, construídas em madeira. Até arrepiava!!!
Passámos a Praia do Ribatejo e Valacois e parámos mesmo defronte ao Castelo de Almourol, para beber calmamente o cafezinho matinal na esplanada que contempla o castelo.
Depois de uma voltinha de reconhecimento voltámos ao trilho, este o denominado o do Castelo . . . simplesmente brutal e um pouco arrepiante. Que espetáculo!
Apesar de já os conhecer de outras voltas, com exceção do primeiro, arrepio-me sempre que por ali passo. Dá-me um gozo imenso!
Seguiu-se o trilho da Lampreia, que quase nos transportou para algum lugar na selva amazónica, tal a exuberância da sua vegetação. Brutal!
Cruzamos os belos espaços verdes do Barquinha Parque pelos seus vermelhos passadiços e cruzando a vila, seguimos para a Moita do Norte e Casal Ventoso.
Passámos pela Quinta de Santa Margarida e pela zona do Chão dos Piscos e Vale da Prata, deliciámo-nos com mais uma longa seção de single tracks, onde nos tornámos a babar de adrenalina.
Já não queríamos sair dali, pois para onde quer que olhássemos, era só carreirinhos e qual deles o mais apetecível. Como diz a canção do Duo Ouro Negro . . . Ai, meus olhos ficaram lá, meus olhos ficaram lá!!!
Havia que continuar e foi o que fizemos.
Rumámos à Lamarosa, Valtibões e Pé de Cão e depois de atravessar Vargos, descemos ao Outeiro, onde nos contentámos com mais uma bjeca fresquinha, pois ainda faltava um ossito para roer.
Seguiu-se a Rechaldia, o início da penosa subida à Senhora da Serra, já em pleno PNSAC.
A pedra começou a aparecer mais amiúde, mas o gozo já não era o mesmo. O rabinho já se queixava e tentava criar uma mais cómoda posição, no palmo de couro dos nossos selins.
Passámos pela Trepada, Cabeço das Fraguinhas, Vale Chão da Mendiga e Cruto das Cavalarias, antes de chegarmos ao Bairro, onde iniciámos uma poeirenta seção de estradão, até nos embrenharmos de novo na mata, por serpenteantes single tracks, que nos levaram a Valinhos e percorremos o caminho da Via-Sacra que se inicia na Rotunda de Santa Teresa (Rotunda Sul), em Fátima, terminando junto à Capela do Calvário Húngaro. É um Caminho representativo do percurso percorrido por Jesus Cristo carregando a Cruz, desde o Pretório de Pilatos até ao Monte do Calvário, episódio da Crucificação. O trilho constituído por quinze estações ilustrativas, (catorze da Crucificação, mais uma da Ressurreição de Jesus Cristo), oferecidas pelo povo Húngaro, é feito pelos cristãos meditando, em oração, na Paixão de Cristo. As estações estão localizadas em parte do caminho usado pelos Pastorinhos, entre Aljustrel e a Cova da Iria, na altura das aparições.
È, desde os últimos três anos, o percurso escolhido para chegar a Fátima.
As nossas esposas, já se encontravam à nossa espera, afastada dos parques pela imensidão de gente que enchiam completamente o santuário, com os parques completamente lotados.
Arrumámos as bikes e comemos a merendinha e fomos ao banhinho retemperador
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Há 14 anos consecutivos que peregrino a Fátima por estrada, sempre no fim de semana antes de 13 de Maio e à 7 anos em Btt, também no fim de semana antes de 13, mas de Outubro.
Este ano inverti os percursos, trocando a estrada pelo Btt, por uma questão logística.
para o ano decidirei se será para continuar. Mas a Fátima irei sempre, enquanto o corpinho aguentar!
Um agradecimento especial ao Dário Falcão, que me acompanhou nestes dois dias de peregrinação e ao Vasco Soares, pela sua excelente companhia no primeiro dia.
Fiquem bem.
Vêmo-nos nos trilhos, ou fora deles.
AC
Comentários
Seria ainda mais grandiosa, caso tivessem participado todos aqueles que o desejavam, mas, como no meu caso, não o conseguiram por motivos alheios à sua vontade.
Grande Abraço
Silvério