As pontas vão-se soltando naturalmente e o meu verdadeiro espírito, meio adormecido, vai-se reacendendo.
A minha bicicleta, companheira inseparável de imensas jornadas . . .essa, mantêm-se sempre fiel aos meus princípios e, apesar da idade ir avançando, também lhe quero ser fiel enquanto as "pernitas" o permitirem, o coração aguentar e a visão me deixar contemplar o horizonte.
E ontem, foi dia de mais um passeio asfáltico, à laia de volta vadia, com a companhia do amigo Jorge Palma.
Pelas 06h30, peguei na minha fragonete, já carregada com a minha "ézinha" e restante material e fui buscar o Jorge à porta da sua garagem.
Carregámos a BMC e restante "tralha" e rumamos ao Sabugal, onde estacionamos no parque da Fonte Velha, a poucos metros da Tasca do Tó, já a pensar na bela da patanisca e do guloso panado em pão caseiro.
Deixamos o Sabugal pela N233 com o céu carregado de nuvens, mas tínhamos a esperança que o site da "mentirologia" se mantivesse fiel às previsões dos dias anteriores.
Passamos pela Pêga, Adão e Monte do Carreto e ao chegarmos a Vila Fernando a estrada estava cortada pela via férrea e já há muitos anos. Estes mapas da net, de vez em quando pregam destas partidas.
Mas nada de especial. Subimos uma quelhinha alcatroada até ao início da ponte sobre a linha e continuámos a nossa aventura, passando o Alabardo, Quintãns, Pousade e Castanheira, até chegarmos a Pínzio.
Uma surpresa para nós era o escasso trânsito que nos permitia mais liberdade para apreciar a bonita panorãmica ao longo dos quilómetros já pedalados e os que ainda faltavam realizar.
Em Pínzio, paramos no Café Paris para bebermos uma bebida a acompanhar as bolachinhas, gentilmente cedidas pelo proprietário, cuja simpatia nos agradou bastante.
Saímos de Pinzio e passamos sob a A25 para um pouco mais à frente fletirmos à esquerda para uma estreita estradinha de piso bastante irregular, que nos fez pedalar à moda do Paris-Roubaix . . .pelas bandas laterais. Até foi giro!
À entrada do Safurdão a estrada melhorou e voltámos ao bom piso a juntar as bonitas paisagens de que íamos desfrutando, com o passar dos quilómetros.
Seguiu-se o Manigoto e Vascoveiro antes de chegarmos a Pinhel, que contornamos com os olhos postos naquela bonita colina onde se encontrava alojada Pinhel, também conhecida por cidade falcão.
Descemos à ponte sobre o Ribeiro das Cabras e subimos um pouco, para efetuar depois a maravilhosa descida ao Rio Coa, envoltos em paisagens deslumbrantes.
Na ponte sobre o Rio Coa, demos início à longa subida ao alto da Serra da Marofa, sempre em pendente suave, com exceção para os últimos kms onde a pendente se manteve nos 8/9 por cento.
Uma bonita subida, apesar de agora um pouco mais desnudada com a limpeza de parte da mancha florestal que a envolvia.
Nos três derradeiros quilometros pudemos apreciar as várias capelinhas que representam o caminho do calvário de Cristo.
Lá no alto as paisagens são deslumbrantes, pena o dia cinzento lhes tirar um pouco de luz.
Depois do registo fotográfico e de apreciar a imponente estátua do Cristo Rei, ali mandada construir em 1956, descemos à rotunda que divide as estradas da Marofa, Castelo Rodrigo, Almeida e Figueira de Castelo Rodrigo.
Lá no alto, ainda antes de descermos a serra, um aguaceiro começou a cair, obrigando-me a vestir a capa da água. O Jorge já a trazia vestida desde o Sabugal.
Subimos à aldeia medieval de Castelo Rodrigo, uma das mais belas aldeias históricas portuguesas erguida no topo de uma colina a 820 metros de altitude.
Com uma beleza ímpar e de asseadas ruelas, foi com prazer que percorremos algumas das suas encantadoras artérias, depois dum bom lanche no pitoresco bar "Pateo do Castelo"
A chuva que entretanto fizera um intervalo para a nossa visita à aldeia, voltou quando a abandonamos em direção a Almeida, com passagem por Vilar Torpim e Reigada.
Almeida é outra aldeia, ou vila com muita história, bem conhecida pela sua fortaleza de doze pontas. Esta fortaleza, considerada como muito importante na defesa da região,
foi sendo melhorada ao longo dos séculos, havendo registos de o castelo
medieval ter sido uma imponente construção.
As obras de que beneficiou ao longo dos séculos XVIII e XIX, tornaram a atual fortaleza no que é considerado como, uma jóia da arquitectura
militar do nosso país e um reduto quase inexpugnável.
A fortificação tem a forma de um polígono hexagonal, com seis baluartes,
num perímetro que atinge dois mil e quinhentos metros, tendo no
interior quartéis para tropas, paióis, depósitos, e oficinas.
Fizemos uma breve visita a esta bonita vila histórica e paramos no "Bar Talmeyda" para mais um belo lanche composto por um belo pica-pau e uma jola fresca.
A chuva lá fez mais um intervalo, o suficiente para chegarmos ao final.
Até chegarmos de novo ao Sabugal, passamos ainda por Cerdeira do Coa, Peroficó, Termas do Cró e Rapoula do Coa.
Quando chegamos junto da minha fragonete que pacientemente nos aguardou no parque de estacionamento, levávamos nas pernas 161 kms plenos de boas pedaladas, a alma cheia de boas sensações, o espírito repleto de deslumbrantes paisagens, bonitas passagens por belas aldeias, com muita história e beleza impar e uma vontade enorme de repetir a aventura, agora por outras bandas, conhecendo outras gentes e novas emoções.
Para terminar, a visita à tasca do Tó, era regra obrigatória.
Da primeira vez que ali estive com o amigo Sandro, numa boa betêtada, demos prioridade à bela patanisca de bacalhau.
Ontem, eu e o Jorge, não nos acanhamos e mandámo-nos a um apetitoso panado servido em pão caseiro, que não ficou nada mal acompanhando a bela da jola fresquinha.
Já saciados de comida e muita aventura, regressamos ao nosso modesto "reino" para o merecido descanso, enquanto magicamos nova aventura para nova oportunidade.
Fiquem bem.
Vêmo-nos nos trilhos, ou fora deles.
AC
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