Avançar para o conteúdo principal

"Memórias da Maratona Perdida"

Folheando a Revista B, deparei com este texto do Nuno Neves e com o qual me identifico plenamente!!!
Talvez seja já um daqueles "caras" que não percebem nada destas novas formas de andar de bike, ou talvez, a outra geração a que ainda pertenço, esteja a afetar a minha visão da "coisa"!!!
Mas o fato, é que gosto mesmo de andar de bicicleta, ou melhor, adoro andar de bicicleta, e por isso, não resisto a transcrever para este meu cantinho na blogosfera, este "profundo" texto do Nuno Neves!!!
. . . JÁ LÁ VAI O TEMPO em que a palavra maratona de BTT significava uma prova de superação pessoal em que o objetivo era conseguir chegar ao fim, demorasse o tempo que demorasse, tendo como elementos de motivação a diversão, a companhia dos amigos e a beleza dos locais percorridos.
A partir do momento em que o relógio entrou nas maratonas, estas perderam o encanto, a inocência e o romantismo de outro tempo. As maratonas transformaram-se em aglomerados de pessoas, obcecadas em terminar o mais rápidamente possível, sempre com os olhos fixos no guiador. Deixou de ser importante o desafio, a cumplicidade com os amigos e com os locais por onde se passa. Passaram a ser mais importantes as marcações do percurso, os abastecimentos, os banhos e os jerseys. Passou a ser obrigatório ir a algumas maratonas, pelo simples fato de serem muito populares e levarem muita gente. Não ir remete ao silêncio as conversas de Segunda Feira, ao final do dia na loja das bicicletas, sobre assuntos do género; O Zé que empenou, o Luís que ficou em 142º lugar, mas que ainda ficou 23 lugares à frente do João, que se fartou de treinar. . .
As maratonas tornaram-se desprovidas de caráter, amorfas e perfeitos martírios. Passaram a ser um prolongamento da semana de trabalho, contribuindo ainda mais para os níveis de stress. O relógio apoderou-se das maratonas como uma doença: há que acabar, o mais rápidamente possível! São os colegas à espera, o almoço, as fitas a tirar e o lixo a limpar. . .
Muitas maratonas passam por locais lindíssimos, alguns deles propriedade privada, que só através destes eventos se tornam acessíveis para a prática do BTT. É de reconhecer o esforço de muitos organizadores em mostrar e dar a conhecer o melhor das suas terras. Pena é que, face à evolução que as maratonas tiveram, já poucos usufruam dessas belezas.
Estou convito que o importante não é chegar, é o caminho que se percorre para lá chegar.
Conversar com os amigos enquanto se pedala, apreciar a Natureza, sentir o cheiro da terra, sentir o corpo em piloto automático quando as forças já se foram, são sensações únicas e que fazem sentir que andar de bicicleta é evasão e diversão. Estas memórias, sim, perduram no tempo.
Não sei se me perdi ou se a maratona me perdeu mas, por tudo isto, estas maratonas já não são para mim.
Fiquem bem
Vêmo-nos nos trilhos
. . . ou fora deles.
AC

Comentários

João Afonso disse…
Concordo plenamente e assino por baixo.
BOAS FESTAS.
1 abraÇo.
Inteiramente de acordo companheiro do pedal.
Sou, isto é era, um participante assíduo de maratonas. Comecei a repara de facto que o espírito de companheiro estava ausente e deixei de participar em muitas delas pois o que procurava afinal não estava lá. Comecei areparar que mesmo os colegas de "equipa" competiam entre si e nºao se via o espirito de entre ajuda quando existia ume mepeno, uma caimbra ou seja o factor humano estava a ficar para trás.

Revejo-me nesse post apesar que continuo a gostar de maratonas mas agora apenas 2 ou 3 as faço mesmo com os amigos do pedal. As outras ficam para os outros falarem nas segundas-feiras e se vangloriarem de que ficaram á frente 10 minutos do colega...
Boas pedaladas
Ricardo Tavares
Unidos Pelo Pedal-Sanguedo

Mensagens populares deste blogue

"Passeio de Mota pela Galiza"

Mesmo com a meteorologia a contrariar aquilo que poderia ser uma bela viagem à sempre verdejante Galiza, 9 amigos com o gosto lúdico de andar de mota não se demoveram e avançaram para esta bonita aventura por terras "galegas" Com o ponto de inicio no "escritório" do João Nuno para a dose cafeínica da manhã marcada para as 6 horas da manhã, a malta lá foi chegando. Depois dos cumprimentos da praxe e do cafezinho tomado foi hora de partir rumo a Vila Nova de Cerveira, o final deste primeiro dia de aventura. O dia prometia aguentar-se sem chuva e a Guarda foi a primeira cidade que nos viu passar. Sempre em andamento moderado, a nossa pequena caravana lá ia devorando kms por bonitas estradas, algumas com bonitas panorâmicas. Cruzamos imensas aldeias, vilas e cidades, destacando Trancoso, Moimenta da Beira, Armamar, Peso da Régua, Santa Marta de Penaguião, Parada de Cunhos, Mondim Basto e cabeceiras de Basto, onde paramos para almoçar uma bela ...

"Sobrainho da Ribeira"

"Hoje foi dia de ir passear a minha "ézinha", em andamento relaxado, pois no próximo fim de semana, tenho a minha peregrinação anual a Fátima. Dois dias de puro btt, logo com o primeiro a chegar ao final, em Constância, após 125 kms em plena comunhão com a natureza, com a bica da cerveja preta e das belas sandes de presunto, ali para os lados da Aldeia do Mato. O segundo será mais "maneirinho" e também muito mais curto, orientado ao puro divertimento, pelos fantásticos singles de Almourol e Serra D'Aire. Saí de casa já um pouco tarde, com os ponteiros do relógio quase a posicionarem-se nas 08h30. Rumei ao Cabeço do Infante, com passagem pela Taberna Seca e Vilares e, ali efetuei a primeira paragem para o cafezinho matinal. Sempre de forma descontraída, continuei as minhas pedaladas passando Sarzedas e descendo ao cruzamento para o Salgueiral e Sobrainho da Ribeira. Escolhi o Sobrainho da Ribeira. Nesta bonita estradinha panorâmica, ...

PPS PR1 e PR2 - Caminho de Xisto do Fajão e Ponte de Cartamil,"

"Eu escolho viver, não apenas existir." (James Hetfield) Em dia de mais uma das minhas caminhadas, sempre na companhia da minha cara metade e excelente companheira nestas minhas passeatas pela natureza, fomos até à bonita Aldeia de Xisto de Fajão. Fajão, é uma aldeia de contos, que convive com as escarpas quartzíticas dos Penedos de Fajão, encaixada numa pitoresca concha da serra, alcandorada sobre  o Rio Ceira, perto da sua nascente, cuja configuração faz lembrar antigos castelo naturais. Chegamos à aldeia pouco depois das 08h30, sob intenso nevoeiro, que nos criou alguma apreensão sobre se daríamos, ou não, inicio à caminhada. Mas a impressão era de que a neblina estava a levantar e o sol começaria a iluminar o bonito Vale sobre o Rio Ceira, rodeado pelos impressionantes Penedos de Fajão e pela Bela Serra do Açor. A beleza que ainda não à muito tempo caracterizava aquela zona, era agora um pouco mais cinzenta, depois da devastação causada pelos fogos ...