Depois de uma noite retemperadora no Hostal Bahia, em Laxe, foi dia de mais uma etapa épica, assim como mais uma valente molha, que viria a ser a última nestes fantásticos 5 dias de btt por terras galegas.
Levantámo-nos cedo e depois de prepararmos as bikes, montando os alforges e oleando correntes, uma prática já adquirida, descemos um pouco abaixo para tomar o pequeno almoço, num bar que verificámos estar ainda fechado, apesar da informação que tínhamos obtido no dia anterior.
Descemos ao porto marítimo e seguimos, já lendo o track gps, acabando por ir tomar o pequeno almoço no Bar Bahia, pertencente ao proprietário do hostal, o Manolo, um tipo bem falante e com quem convivemos algum tempo no dia anterior.
Lá tomámos o pequeno almoço, calmamente, pois o dia avizinhava-se longo e queríamos ganhar alguns kms para minimizar a chegada a Santiago.
Os primeiros kms foram feitos por asfalto, com passagem pelas povoações de Os Peñascales, Frexufre, A Cruz de Cabalo, San Pedro, Taboido, Os Castros e As Grelas, sempre com o oceano debaixo de olho.
Estávamos já na transição da Costa da Morte para a Costa de Dexo, onde a terra e o mar se combinam, tendo como resultado a existência de formosas paisagens e o recurso, por excelência, a este belíssimo espaço natural.
Combinando agora o asfalto com belas passagens pelas idílicas praias entre os recantos das falésias, fomos cruzando muitas pequenas povoações como a Telleira, A Carballa, Balado Aspera e Neaño, até chegarmos a Ponteceso, uma bonita Villa, de uma singular beleza paisagística e banhada pelo Enseada de Insua, na foz do Rio Allons.
Depois de passar o pórtico, logo após cruzarmos o rio entrámos na parte velha da villa, retrocedendo à época medieval, muito bonita, mas que acabou por ser muito sofrida pela sua forte pendente, que tivemos que transpor com as nossas bikes carregadas com os alforges, a rondar os 26 kgs. (binómio).
Era impossível parar e desfrutar das bonitas tasquinhas, (bares/pubs) que íamos olhando de soslaio e estabelecimentos de "recuerdos", ou mesmo para tirar umas fotos.
Não conseguiria, pelo menos para mim, "arrancar" dali a pedalar sem ter que voltar atrás. Foram umas largas centenas de metros que tivemos que percorrer, quase com o queixo encostado ao guiador, para chegar lá ao alto, onde pudemos respirar mais um pouco.
Continuámos a cruzar bonitos "poblados" como Cospindo, A Brixeira, Carballido, As Gueixas, Brantuas de Abaixo, Casas da Espereira,, Brantuas de Arriba, Niñons, Asalo, Vilanova de Santiso, Seaia e Malpica de Bergantiños, onde paramos para ir a uma caixa multibanco e tomar o segundo "desayuno" do dia. Seguimos depois até ao pitoresco porto marítimo e subimos ao alto da vila por uma ingreme ruela, a fazer-nos lembrar a ainda recente passagem por Ponteceso.
Mas valeu a pena, a vista lá do alto era simplemente arrebatadora.
Entrámos seguidamente num bonito percurso denominado Ruta dos Pinos no Mar, que nos conduziu para o interior duma vegetação luxuriante e arrebatadores "senderos" até às proximidades da Playa de Razo, onde para variar, efetuamos uma penosa subida empurrando a bicicleta, onde quase em dois passos, tínhamos de dar um atrás para tomar balanço.
Seguiu-se O Ceán, Arnados, O Outeiro e Castillon, para entramos num dos espetaculares momentos desta etapa, a passagem pela Baia de Baldaio, por um estreito istmo que nos pareceu uma delícia. Um momento único e espetacular.
Leira Caion, Barrañan e Arteixo, onde sofremos um pouco, não com a dificuldade física, mas com os cheiros nauseabundos vindos das fábricas de farinhas, ou de mariscos, nomeadamente na transformação de "percebes" o marisco de eleição na zona, foram a ligação do que faltava para atingira a enorme cidade de cristal de A Corunha, já ao alcance dos nossos olhos Uff, não foi uma passagem nada fácil para as narinas.
Depois de abandonar Arteixo entramos na longa ciclovia que atravessa toda a cidade, onde destaco a espetacular zona do passeio marítimo, com a passagem pela península, com a sua altaneira Torre de Hércules, datada do sec. II e um dos faróis romanos em atividade mais antigos do mundo.
Não ficámos indiferentes à passagem pela Agra das Praderas e o seu Passeo de los Dolmenes, assim como o enorme porto marítimo, onde andámos um pouco à nora, derivado às obras, que nos obrigaram a alguns desvios do track gps.
Foram cerca de duas horas para cruzar a cidade e só cruzámos a orla marítima, Fiquei impressionado e com vontade de ali voltar e conhecer um pouco mais amiúde aquela bonita metrópole.
Quase sem despegar, passámos pelo Porto Santa Cruz, Breixo e Cabreira, antes de chegar a Meira, onde pretendíamos ficar.
Mas a ausência de locais para pernoitar, levou-nos a procurar outro local, avançando mais uns kms, já com o dia no seu ocaso.
A coisa ia ficando prêta, pois eram apenas pequenas povoações, onde não havia hostais nem pensões.
Acabámos por ficar no Parque de Campismo Velo Mar, na Playa de Cirro, onde alugámos um bungalow.
Como a sorte ao final do dia, estaria ocupada noutras funções, a cozinheira do parque também estava dispensada naquele dia.
Apesar do parque ter restaurante, a nós não nos valia de nada.
Solução . . . retirar os alforges, guardá-los no parque e ir de bicicleta à procura de um restaurante.
O primeiro que encontrámos não tinha pão ( desculpa para não fazer uns bocadillos) e abancámos no segundo, e ainda bem.
Era um restaurante (tipo tasca) mas que gostámos bastante.
Comemos no exterior, na esplanada, um belo "Raxo", a nossa comida oficial nesta aventura, muito bem servido, acompanhado dumas belas cañas.
A simpatia da dona do restaurante foi de tal forma, que ao pedirmos duas doses, ela nos disse que uma chegava bem para os dois. Isto de pedalar à peregrino, tem as suas vantagens!
Um fabuloso dia de pedaladas, que deixam marcas em tipos como eu, para quem o cicloturismo de aventura é a forma ideal de viajar e de conhecer mais em pormenor as zonas por onde passamos.
Os prados, as florestas do interior e as falésias batidas pelas ondas, definem uma paisagem inesquecível, onde a natureza tem sempre o protagonismo.
O rabinho estava a aguentar-se, as perninhas não se queixavam e a mente, essa, estava já a tentar antecipar o que nos esperaria no dia seguinte, onde já iríamos entrar no Caminho Inglês para Santiago de Compostela.
Neste dia conseguimos pedalar durante 120 kms, adiantando um pouco a chegada a Santiago.
Já só faltavam 180 kms para terminar esta espetacular aventura.
Fiquem bem.
Vêmo-nos nos trilhos, ou fora deles.
AC
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Comentários
Grandes Abraços
Silvério