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Transpirenaica > "Campodrón - Planoles"

Dia 3 - Campodrón - Planoles, 64 Kms"

Depois de uma noite, mais ou menos bem dormida, descemos ao hall de entrada do simpático hostal onde nos tinhamos alojado e reparámos que as nossas bikes já nos esperavam, ali colocadas pela proprietária, assim como um frugal "desayuno" e um "pic-nic" para comer na montanha.
 Recordei então o conselho da senhora, que nos disse. . . "pela manhã, olhai lá para o alto, para os cumes da montanha, e, se esta estiver coberta de neblina, não vos aventureis por ali e escolham itenerário alternativo. Não subam ao collado, pois ontem caiu lá um  nevão e com neblina é deveras perigoso a travessia da montanha".
Sábio conselho, que acatámos. Por isso, logo que saímos a porta do hostal, os nossos olhos viraram-se lá para os longínquos cumes das montanhas. Estavam lindas, convidativas e libertas da indesejável neblina. Era pois, hora de nos pormos a caminho.
Demos então início à nossa terceira etapa pirenaica, que se augurava difícil. Mas não nos amedrontámos. nem com a altimetria anunciada, pois íriamos subir pela primeira vez acima dos 2000 metros de altitude, nem pela neve, que, pelo contrário, ansiávamos encontrar.
Saímos de Campodrón em amena cavaqueira e passámos Llanars, onde tivemos a primeira grande imagem do dia, com um belo arco íris a cruzar o horizonte sobre os cumes, alguns dos quais pretendíamos conquistar.
Seguímos em direção a Vilallonga de Ter, onde começámos a longa e dura subida em trilho acimentado até  Tregurá de Dalt.
A partir daqui, o cimento desapareceu, dando lugar a um trilho pedrogoso e de dificil progressão nalgumas secções, até ao alto do Collado de la Gralla, sobre a Sierra de Cavallera.
Consoante íamos ganhando altitude, os ânimos iam arrefecendo com o frio a entranhar-se no corpo, tornando insensíveis as extremidades. (pés e mãos)
Era deslumbrante a paisagem criada naquela escura montanha, toda manchada de branco, fruto do nevão que a cobrira no dia anterior.
Atingimos o Collado de la Gralla, onde a temperatura oscilava entre o positivo e o negativo.
Mesmo assim, não foi impeditivo para que brincássemos na neve e registássemos o momento com as nossas digitais.
Um inebriante sabor a conquista, invadiu-me o corpo e o espírito, após esta longa subida. Não foi fácil para mim chegar lá acima com a bike carregada com alforges. Foi duro, mas por outro lado, muito belo e gratificante, tão pequeno me senti!!! Tiritava de frio, mas sentia-me feliz por pedalar em tão imensa grandeza!!!
Seguimos o trilho que nos levou ao Collado de Melanell onde demos início àqueles intermináveis 11 kms de descida cheia de pedra e regueiras.
Mas se a subida foi dura, a descida não se ficou atrás. Não pela pendente, mas pelo frio que chegou a um grau negativo e pela falta de sensibilidade para dominar a bike, pois não sentia as mão nem os pés.
Em plena descida, o Didier fez um rasgão no pneu traseiro da sua bike. Estava tão gelado, que optou por fazer cerca de um km a pé, com a bike às costas, para aquecer e assim conseguir meter uma câmara de ar no pneu danificado.
O Bruno Malheiro fez-lhe companhia e, eu e o Carlos, que nada podíamos fazer, continuámos a descer, completamente gelados.
A nossa primeira imagem sobre Ribes de Frezer foi reconfortante. Consoante desciamos a temperatura ia subindo e nós íamo-nos soltando e recuperando a sensibilidade para dominar a bike, ao mesmo tempo que aumentávamos a velocidade. Queríamos chegar rápido a um local onde nos pudéssemos aquecer.
Assim que entrámos em Ribes de Frezer, procurámos logo um bar e de imediato pedimos dois cafés quentinhos, que além de nos aquecerem por dentro, serviram também para nos irem aquecendo as mãos. Duplicámos a dose, acompanhada de uns bolos regionais, que também não souberam nada mal.
Entretanto chegaram o Didier e o Bruno, gelados como nós e mudámos para o "cacaolat" quentinho e em dose maior. Voltámos a duplicar a dose.
O frio "já era" e a temperatura amenizara e voltáramos a recuperar a nossa verdadeira tonalidade.
Já reconfortados, fizémo-nos de novo aos trilhos, seguindo agora em direção à última dificuldade do dia, a subida ao Collet de Barraques, com vista priveligiada sobre o Valle de Núria.
Os últimos quatro kms fizémo-los em vertiginosa descida até Planoles, onde terminámos a etapa e ficámos alojados no Albergue Pere Figuera.
Um dia duro, não só pelas dificuldades geográficas, mas também pelas climatéricas. Mas de espetacular beleza, sobretudo nas passagens pelos Collados de la Gralla e Melanell e pelas emoções vividas e partilhadas.
O alojamento no alberque foi partilhado pelos quatro num só quarto e a refeição foi um pouco curta para as nossas aspirações. Uma patinha de frango com batas fritas de pacote, uma canja, um yogurte ou peça de fruta.
Teríamos que armanezar calorias no dia seguinte no primeiro local que encontrássemos. Isso era garantido!!!
CONTINUA. . .




Fiquem bem.
Vêmo-nos nos trilhos,
ou fora deles.
AC

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