Aproveitando alguma disponibilidade do meu irmão Luís, com um empurrãozinho do feriado do 10 de Junho, idealizámos uma forma de gastarmos os 5 dias de forma mais proveitosa, fazendo o que gostamos e como gostamos. Aventura em estado puro e em completa autonomia.
Os "Caminhos" é algo que nos move e estiveram já por várias vezes em agenda, não sendo ainda nenhum percorrido, por este, ou por aquele motivo.
No ano passado, não pude fazer o GR113 (Camiño de Tajo) por questões de saúde e este ano . . . era o dia D!
Tinha já planeado ir fazer o Caminho do Interior, mesmo a solo, porém a disponibilidade limitada do meu irmão e a vontade de "embarcar numa proeza guerreira de cavaleiros andantes" levou-nos a esta fantástica aventura.
Tínhamos 5 dias para percorrer o caminho de Finisterra e Muxia, continuar pela Costa da Morte, Costa de Dexo e Costa Ártabra até Ferrol com passagem pelas ciclovias da A Corunha e terminar percorrendo o Caminho Inglês, para terminar de novo em Santiago de Compostela.
Preparámos então as bikes, montámos os alforges e carregámo-los com o que considerámos estritamente necessário para concluirmos o nosso projeto, mas ainda assim, não conseguimos baixar o binómio bike/alforges dos 25 quilos. Havia muito puxar pelo "músculo", mas, como diz o ditado . . . quem corre por gosta não cansa!
Saímos em direção a Santiago pelas 15h30 da passada sexta feira, dia 6, na viatura do meu irmão e já com alojamento marcado na Hospederia Via Lucis junto ao campus universitário.
Chegámos tarde e a más horas, pois não conseguimos resistir á boa gastronomia e excelente "pinga" da Dona Júlia, em Chaves.
Dar com a hospederia, foi outra aventura, mas lá conseguimos entrar.
O quartos era um pouco austero, ou não estivéssemos num convento, mas acolhedor e o ideal para descansar, pois a viagem tinha sido longa.
Muita simpatia, por parte da rececionista, que até nos deixou ficar a viatura estacionada gratuitamente entre as árvores do jardim, até que chegássemos da nossa aventura.
A noite, de longa nada teve, pois a ansiedade de começar levou-nos a um acordar "temprano".
Preparámos calmamente as bikes e material necessário para a nossa pequena odisseia, verificámos cuidadosamente o estado das bikes e depois de olear correntes, calibrar gps e conta kms, rumámos á Plaza de Obradoiro, o nosso ponto de partida e também de chegada.
pouco passava das 07h quando começámos a pedalar.
Aquela hora a imponente catedral parecia maior com a ausência de pessoas e a plaza era quase só nossa.
Procurámos um sitio para "desayunar" e tivemos sorte em encontrar a única aberta no local, onde bebemos o normal "café com leche e croissant con mantequilla e mermelada", seguindo-se o "café solo e cortito"
Depois de sairmos de Santiago em direção a Rio Xar, onde começámos logo a ver os famosos "cairns", montes de pedrinhas que os peregrinos utilizam para lembrar os seus entes queridos.
Passámos pela Portela de Villestro, onde voltámos a "desayunar" no Restaurante Alto de Vento, Ventosa e Aguapesada, seguindo-se um fantástico trilho entre frondoso arvoredo, com muita pedra e raízes a dificultar a progressão, em sentido ascendente, por vezes com forte declive, a obrigar-nos a um esforço intenso, para avançar os 4 kms de esforço contínuo ao Alto do Mar das Ovelhas.
Depois de Carballo e Transmonte, os nossos olhos brilharam com a beleza da Ponte de Maceira, datada do Séc. XIV, sobre o Rio Tambre, com este a correr em pequenas cascatas e com antigos moinhos e casas senhoriais.
Saímos daquele belo recanto medieval e seguimos para a Chancela e Negreira, onde voltámos aos trilhos fantásticos, com a passagem pelo Bosque da Taberna Nova, uma serrania de floresta de carvalhos e castanheiros, passando depois a uma linda paisagem pontilhada de hórreos em granito (espigueiros) e inúmeras explorações agropecuárias.
A chuva, que quase sempre nos tinha acompanhado, começava agora a ser mais persistente e a dificultar um pouco a progressão, com os caminhos a ficarem encharcados e mais escorregadios.
Passámos Zas, Rapote e À Rena, antes de chegarmos a Villaserío, local habitual de paragem de peregrinos, no Café "A Nossa Casa", onde carimbam as credenciais e se alimentam, com os belos "bocadillos" ali servidos.
Nós não fugimos à regra e comemos um belo "bocadillo", acompanhado dum belo par de loiras "cañas"!
Abandonámos o café e à passagem por O Cornado" a chuva tornou-se diluviana e bastante incomodativa. Já chegava bem "ao osso"
Os caminhos transformaram-se em pequenos ribeiros e alguns mais pareciam rios!
Parámos em As Maroñas debaixo do telheiro de um café, apenas para guarda nos alforges, a máquina fotográfica e o telemóvel, dos quais até fiquei com dúvida se ainda trabalhariam no dia seguinte!
A solução lógica era não parar, se queríamos chegar a Finisterra. manter o corpo quente evitando paragens. Acho que foi uma boa decisão e que nos levou até Finisterra.
Lá fomos pedalando, por vezes sem saber bem o que pisávamos e outras vezes mais navegando, com os alforges quase a fazer de boias em algumas seções. Que aventura!!!
Passámos Santa Mariña, A Gueima e chegámos a Oliveiroa, através da sua estreita ponte sobre o Rio Xallas. Um local habitual de fim de etapa, mas nós tínhamos que continuar.
Sempre sob chuva intensa, cruzámos O Logoso e ultrapassámos as suaves subidas até Hospital, com continuação até ao Cruzeiro da Armada, onde começámos a avistar Cée.
Apesar da chuva, ansiávamos ver o mar e foi do alto do Cruzeiro, que o avistámos pela primeira vez.
Fomos então absorvidos pela sensação de que íamos terminar bem a nossa aventura nesta primeira etapa, que inicialmente tínhamos programado até Muxia. Mas até Finisterra, era já um bom avanço, derivado à intempérie que caiu sobre nós.
Corcubión e a Baia de Cée, estavam já ao nosso alcance, mas não foi nada fácil chegar lá.
A longa, pedregosa e irregular descida, que mais parecia um rio, era quase interminável e, parte dela, teve de ser a segurar a bicicleta, com os punhos bastante doridos, já a clamar por algum descanso.
O nosso primeiro dia estava quase cumprido.
Passámos aquele grande aglomerado habitacional, de Cée e Corcurbion e continuámos por A Amarela, Sardiñeiro de Abaixo e Escaselas, para finalmente entrarmos em Finisterre.
Foi um prazer incrível e uma verdadeira paixão, quer pela beleza envolvente, quer pelo convívio puro e familiar, na excelente companhia do mano Luís.
O stress desapareceu e sentimo-nos inebriados pelos elementos paisagísticos, culturais e históricos, apesar de termos concluído este primeiro dia debaixo de intenso temporal, nomeadamente nos últimos 60 kms.
Ficámos alojados no Hostal Mariquito e depois de um reconfortante banho, fomos até ao porto marítimo degustar um belo "Raxo" e uma bela "botella" de um branquinho bem "gallego", que acabou por em nada contribuir para a bela e adormecida noite que se seguiu, pois o cansaço e a dureza da etapa, acabou por se antecipar.
Os primeiros 90 kms estava cumpridos. Faltam agora 401 para o final.
No dia seguinte, esperava-nos a ligação de Finisterra a Muxia e Laxe, já em pleno coração da Costa da Morte e as suas praias de beleza selvagem.
Fiquem bem.
Vêmo-nos nos trilhos, ou fora deles
AC
A noite, de longa nada teve, pois a ansiedade de começar levou-nos a um acordar "temprano".
Preparámos calmamente as bikes e material necessário para a nossa pequena odisseia, verificámos cuidadosamente o estado das bikes e depois de olear correntes, calibrar gps e conta kms, rumámos á Plaza de Obradoiro, o nosso ponto de partida e também de chegada.
pouco passava das 07h quando começámos a pedalar.
Aquela hora a imponente catedral parecia maior com a ausência de pessoas e a plaza era quase só nossa.
Procurámos um sitio para "desayunar" e tivemos sorte em encontrar a única aberta no local, onde bebemos o normal "café com leche e croissant con mantequilla e mermelada", seguindo-se o "café solo e cortito"
Depois de sairmos de Santiago em direção a Rio Xar, onde começámos logo a ver os famosos "cairns", montes de pedrinhas que os peregrinos utilizam para lembrar os seus entes queridos.
Passámos pela Portela de Villestro, onde voltámos a "desayunar" no Restaurante Alto de Vento, Ventosa e Aguapesada, seguindo-se um fantástico trilho entre frondoso arvoredo, com muita pedra e raízes a dificultar a progressão, em sentido ascendente, por vezes com forte declive, a obrigar-nos a um esforço intenso, para avançar os 4 kms de esforço contínuo ao Alto do Mar das Ovelhas.
Depois de Carballo e Transmonte, os nossos olhos brilharam com a beleza da Ponte de Maceira, datada do Séc. XIV, sobre o Rio Tambre, com este a correr em pequenas cascatas e com antigos moinhos e casas senhoriais.
Saímos daquele belo recanto medieval e seguimos para a Chancela e Negreira, onde voltámos aos trilhos fantásticos, com a passagem pelo Bosque da Taberna Nova, uma serrania de floresta de carvalhos e castanheiros, passando depois a uma linda paisagem pontilhada de hórreos em granito (espigueiros) e inúmeras explorações agropecuárias.
A chuva, que quase sempre nos tinha acompanhado, começava agora a ser mais persistente e a dificultar um pouco a progressão, com os caminhos a ficarem encharcados e mais escorregadios.
Passámos Zas, Rapote e À Rena, antes de chegarmos a Villaserío, local habitual de paragem de peregrinos, no Café "A Nossa Casa", onde carimbam as credenciais e se alimentam, com os belos "bocadillos" ali servidos.
Nós não fugimos à regra e comemos um belo "bocadillo", acompanhado dum belo par de loiras "cañas"!
Abandonámos o café e à passagem por O Cornado" a chuva tornou-se diluviana e bastante incomodativa. Já chegava bem "ao osso"
Os caminhos transformaram-se em pequenos ribeiros e alguns mais pareciam rios!
Parámos em As Maroñas debaixo do telheiro de um café, apenas para guarda nos alforges, a máquina fotográfica e o telemóvel, dos quais até fiquei com dúvida se ainda trabalhariam no dia seguinte!
A solução lógica era não parar, se queríamos chegar a Finisterra. manter o corpo quente evitando paragens. Acho que foi uma boa decisão e que nos levou até Finisterra.
Lá fomos pedalando, por vezes sem saber bem o que pisávamos e outras vezes mais navegando, com os alforges quase a fazer de boias em algumas seções. Que aventura!!!
Passámos Santa Mariña, A Gueima e chegámos a Oliveiroa, através da sua estreita ponte sobre o Rio Xallas. Um local habitual de fim de etapa, mas nós tínhamos que continuar.
Sempre sob chuva intensa, cruzámos O Logoso e ultrapassámos as suaves subidas até Hospital, com continuação até ao Cruzeiro da Armada, onde começámos a avistar Cée.
Apesar da chuva, ansiávamos ver o mar e foi do alto do Cruzeiro, que o avistámos pela primeira vez.
Fomos então absorvidos pela sensação de que íamos terminar bem a nossa aventura nesta primeira etapa, que inicialmente tínhamos programado até Muxia. Mas até Finisterra, era já um bom avanço, derivado à intempérie que caiu sobre nós.
Corcubión e a Baia de Cée, estavam já ao nosso alcance, mas não foi nada fácil chegar lá.
A longa, pedregosa e irregular descida, que mais parecia um rio, era quase interminável e, parte dela, teve de ser a segurar a bicicleta, com os punhos bastante doridos, já a clamar por algum descanso.
O nosso primeiro dia estava quase cumprido.
Passámos aquele grande aglomerado habitacional, de Cée e Corcurbion e continuámos por A Amarela, Sardiñeiro de Abaixo e Escaselas, para finalmente entrarmos em Finisterre.
Foi um prazer incrível e uma verdadeira paixão, quer pela beleza envolvente, quer pelo convívio puro e familiar, na excelente companhia do mano Luís.
O stress desapareceu e sentimo-nos inebriados pelos elementos paisagísticos, culturais e históricos, apesar de termos concluído este primeiro dia debaixo de intenso temporal, nomeadamente nos últimos 60 kms.
Ficámos alojados no Hostal Mariquito e depois de um reconfortante banho, fomos até ao porto marítimo degustar um belo "Raxo" e uma bela "botella" de um branquinho bem "gallego", que acabou por em nada contribuir para a bela e adormecida noite que se seguiu, pois o cansaço e a dureza da etapa, acabou por se antecipar.
Os primeiros 90 kms estava cumpridos. Faltam agora 401 para o final.
No dia seguinte, esperava-nos a ligação de Finisterra a Muxia e Laxe, já em pleno coração da Costa da Morte e as suas praias de beleza selvagem.
Fiquem bem.
Vêmo-nos nos trilhos, ou fora deles
AC
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Grande Abraço
Silvério